Na manhã seguinte ao anúncio de que havia vencido a principal categoria do 57º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul, entrevistei a escritora Adriana Antunes. Antes de tudo, o que ela mais repetia era: "Estou feliz, feliz, feliz!".
Maldosos dirão que é por conta da premiação em dinheiro do Vivita Cartier, no valor de R$10.228,80. Contudo, na entrevista que você confere a seguir, ela deixa claro o real motivo de sua felicidade, que é por conta do conteúdo de sua obra em poema "o-Vári(a)s", lançado em 2022, ter sido visibilizado e amplificado.
E de quebra, a Adri revela que vem novo livro por aí (quem lê semanalmente as suas crônicas, publicadas aqui no Pioneiro já sabe do que se trata). "Quando menos se espera já é março", está em pré-venda por este site.
Reconhecimento
— Estou muito feliz pelo prêmio, por carregar o nome de Vivita Cartier. E feliz também porque o livro é uma poesia dura, que rasga e quando eu inscrevi, ao mesmo tempo em que tinha uma expectativa com a possibilidade dele ser lido e compreendido na profundidade dele, eu também tinha um certo receio, porque vivemos tempos tão intolerantes. Será que é possível falar de temas tão complexos, falar de tanta dor, de certa forma cantar, porque foi um pouco isso que fiz, gritar e cantar?
Sobre a obra premiada
— É uma poesia feminista, que fala do feminino, que fala desse sofrimento do feminino, até pra gente conseguir desmitificar a ideia negativa de que o feminismo é o reverso do machismo, e não é verdade. Quando a gente fala em feminismo, fala de uma capacidade ou de uma busca por uma cidade mais equânime que consiga olhar pra mulheres e homens de uma maneira mais equilibrada.
Masculinidade tóxica
— Esse é um livro de poesias que fala de abuso, de pedofilia, de incesto, de violência contra meninas e contra mulheres trans. Um livro que olha pro feminino e tenta, na medida do possível, expor esses buracos todos que temos e o quanto, de certa forma, não somente o masculino, mas a misoginia, o machismo, a masculinidade tóxica que pertence a homens e também a mulheres e que pertence a uma sociedade na qual a gente vive, que mete os dedos nesses buracos, muito de uma forma coisificada, objetificada, sem levar em consideração o que essa outra pode estar sentindo nesse momento.
Combater as violências
— Poder ganhar esse prêmio vem como um abre alas, uma ratificação no sentido de que a gente precisa olhar pra isso e precisa se juntar e precisa pensar juntos formas de combater essa violência, que é física, simbólica, psicológica, moral, patrimonial, enfim, violências em todos os sentidos.
Novo livro em pré-venda
— "Quando menos se espera já é março" é um compilado de crônicas, que eu escrevi no jornal Pioneiro. Esse livro, na verdade, surge como um processo de elaboração do luto do meu pai. Ele morreu em 8 de março de 2022, um dia extremamente importante pra mim, e só de falar me emociono. Porque meu pai era o meu primeiro leitor. Esse livro de crônicas é mais afetivo, enquanto que "o-Vári(a)s" é um livro produzido pela raiva. Meu pai era a pessoa que mais me lia, mais me incentivava, ele era apaixonado por Jornalismo. Ele gostava de chegar nos lugares e dizer que era o pai da Adriana Antunes. Compilei crônicas até o dia em que ele morreu, como um compilado muito afetivo das crônicas que ele leu e é uma forma de manter meu pai vivo.