É comum que, mesmo entre os homens que frequentam regularmente o médico, quem agende a consulta é uma mulher - seja a mãe, esposa, irmã ou filha. O tabu relacionado ao autocuidado masculino é tema desta entrevista que antecede o Dia do Homem, comemorado na segunda-feira, 15 de julho. De acordo com o Programa Nacional de Saúde, a taxa de mulheres que vão ao médico é de 82,3%, bem acima dos 69,4% registrados entre a ala masculina. Esse dado é reiterado pelo urologista carioca radicado caxiense há 16 anos, Felipe Carvalho Antunes de Figueiredo, marido da dermatologista Fernanda Tomazzoni, reconhecido por ter desenvolvido o tratamento minimamente invasivo da Hiperplasia Prostática Benigna pela técnica do MiLEP. Graduado em Medicina pela UFRJ com residências em Cirurgia Geral, no Hospital Orêncio de Freitas, e Urologia, na UERJ, é especialista em Cirurgia de Enucleação Endoscópica da Próstata com Laser Holmium, com imersões em centros de referência na Itália, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. A conscientização sobre a importância do cuidado preventivo é fundamental, garante Felipe. Saiba mais sobre ele!
Quais mitos sobre a saúde masculina que poderia esclarecer? O de que “quem procura acha” e é melhor não ir ao médico. Mas a realidade é o oposto: quanto mais cedo você detecta uma doença, ou até mesmo um fator de risco, mais fácil de curar ou de preveni-la.
O que o leitor pode identificar como gatilho para buscar ajuda? A hiperplasia prostática causa sintomas muito característicos no homem com mais de 40 anos como o jato urinário fraco, sensação de esvaziamento incompleto, aumento de frequência urinária e acordar à noite para urinar. Isso tem cura.
Quais são os desafios mais comuns? É tentar conseguir resultados perfeitos em uma ciência imperfeita, na qual fatores não controláveis como as comorbidades dos pacientes podem influenciar nos resultados. O nível de exigência que temos de nós mesmos é o maior entre todas as profissões. Por isso as altas taxas de Burnout na área cirúrgica.
Sonhava ser o que se tornou? Até o fim do ensino médio, não tinha certeza de qual carreira seguir. Fiz um teste vocacional que sinalizou uma profissão que fizesse a diferença na vida das pessoas, com autonomia para definir o meu destino. A medicina se encaixava em todos os quesitos, 21 anos depois, contabilizo um reconhecimento internacional na minha profissão.
O que o motiva na especialidade? A urologia é a especialidade que combina tanto a clínica quanto a cirurgia e é a que mais evolui tecnologicamente com a possibilidade de tratar as doenças minimizando o trauma ao paciente e o tempo de recuperação. Por isso, ainda na residência, me interessei pelas cirurgias endoscópicas, que permitem tratar cálculos urinários, tumores de bexiga e o aumento benigno da próstata sem nenhuma incisão. Após começar a frequentar congressos internacionais de endourologia, conheci um novo método para tratamento da hiperplasia prostática benigna. Em 2015, essa tecnologia ainda não havia no Brasil e fui visitar centros de referência na Europa e nos EUA. Foram muitas barreiras a serem vencidas, como a dificuldade de acesso aos equipamentos que são todos produzidos na Itália e Alemanha. Mas tive a sorte de contar com o apoio institucional do Hospital Pompéia para sediar todos estes equipamentos e viabilizar a estrutura necessária. À época, o problema era que o HoLEP utilizava os mesmos endoscópios da RTU, que são calibrosos, e nem sempre conseguem passar de forma atraumática pela uretra. Consegui com um fabricante alemão, que criasse um endoscópio mais fino para realizar o HoLEP. Foi então que surgiu o MiLEP: Minimally Invasive Laser Enucleation of the Prostate que me trouxe reconhecimento em todo o mundo. Após os excelentes resultados atingidos nos primeiros anos, optei por dar uma guinada na minha carreira e me dedicar exclusivamente ao tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna e fundei o Instituto da Próstata Aumentada, onde trabalho e recebo pacientes de todo o país e do exterior.
Um caso marcante em sua carreira? A cirurgia que realizei, ao vivo, em maio deste ano, em Modena, na Itália, em um Masterclass Internacional de HoLEP, com grandes nomes da Endourologia Européia. Eu era o único não-europeu. Houve dez cirurgias ao vivo, nove delas com o endoscópio mais calibroso. Fiz a única com o endoscópio mais fino, narrando cada passo em inglês e sendo sabatinado pelos colegas. Foi uma das mais perfeitas. As outras duas que mais me marcaram foram os MiLEPs de dois urologistas caxienses que me ajudaram muito quando cheguei e que me escolheram na hora de operar suas próstatas.
O que o conecta a Caxias do Sul? Foi a cidade que escolhi viver após o casamento. Minha esposa nasceu e estudou aqui, já tinha um grande círculo de amizades que prontamente me acolheram. Vindo de uma megalópole suja, violenta e urbana, me encantei com a tranquilidade da Serra, que tem atrações de uma capital com um ar de interior. No início, estranhei um pouco o inverno, mas o clima é muito mais agradável do que o escaldante verão carioca.
O que é o bom da vida? Quando jovem acreditava que o objetivo era encontrar o pote de ouro no fim do arco-íris. Hoje, sei que ele não existe e que o bom mesmo é aproveitar o caminho. As três decisões mais importantes da vida são: com quem e onde viver e no que trabalhar. Tive minha mãe, Isa Carvalho Antunes de Figueiredo, muito presente. E mais sorte ainda em ter casado com uma mulher incrível, que consegue ser ao mesmo tempo uma dermatologista brilhante, uma esposa linda e parceira e uma mãe maravilhosa para nossos filhos, Pedro e Ricardo.
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Raio-X:
- Qual livro recente você leu e recomenda, e por quê? Hábitos Atômicos, de James Clear. É um livro que reforça a importância das pequenas melhorias, mesmo que quase imperceptíveis mas que se acumulam progressivamente como juros compostos e com o tempo causam uma grande diferença em nossas vidas.
- Como define o sucesso pessoal? Sucesso é quando as pessoas que você ama e se importa gostam de você.
- Quais são seus hobbies e atividades de lazer favoritas? Jogar tênis com os amigos, tempo livre com a família, viagens de férias e para Congressos de Endourologia.
- Se pudesse viver uma aventura inesquecível, seria: me mudar para uma cidade nova, começar do zero, conquistar espaço e reconhecimento degrau por degrau, constituir uma família, me tornar um dos melhores do mundo na minha profissão, e ter um monte de amigos.
- Gostaria de ter sabido antes: que o objetivo do jogo da vida não é ganhar o jogo mas continuar jogando.
- Um sonho: que o ser humano só fizesse para o outro, o que ele gostaria que fosse feito para si mesmo.