Uma infância vivida no bairro, brincando na rua, nos anos 1990 quando tudo parecia tão sépia, assim como a estética do cinema. Para o William Valduga daquele tempo, o mercado audiovisual parecia algo muito distante, mas estava mais próximo do que ele imaginava e, agora, radicado em São Paulo, vive o sonho idealizado.
— Meu nonno, Dorvalino Valduga (in memoriam), entre inúmeras qualidades, tinha como passatempo a marcenaria. Foi no porão da casa dele que comecei a sonhar. Em suas habilidosas e caprichosas mãos, o imaginário tornava-se real. Agora, no trabalho, sempre que escuto a sinfonia de ferramentas da construção de um cenário, sou transportado para a companhia de meu avô. Passada a fase dos brinquedos, um dia a meu pedido ele construiu uma bancada ao estilo Jornal Nacional para que eu e alguns colegas de escola gravássemos um trabalho de História. E assim, sem me dar conta, projetei meu primeiro cenário — relembra o filho de Lucila Menegotto Valduga (in memoriam) e Roberto Luís Valduga, que por incentivo da professora Silvana Boone e do amigo e, hoje, reconhecido diretor de fotografia Bruno Polidoro, despertou a vocação em criar. Além da influência do avô, William celebra o convívio com seu irmão, Teilor Valduga.
— Apesar de sermos muito diferentes, ele me inspirou, defendeu e me ajudou a impulsionar e viver minhas vontades. Lembro de assisti-lo dançar tango e era sempre muito divertido, exige habilidade na interpretação. Sempre me ajudava a criar palcos de teatro improvisados em casa e um dia, com sobras de tecido, fez uma cortina que seria acionada por um sistema de roldanas, uma traquitana infantil com um ar profissional. Aquilo foi o auge da empolgação para uma criança que sonhava com teatro — conta.
Aos 17 anos, ingressou no curso de Audiovisual da Unisinos. Já formado, estudou Arquitetura e Urbanismo na Uniritter. Começou como assistente em produções de pequena escala, depois ingressou como cenógrafo até se tornar diretor de arte. William assina filmes e séries como “7 Prisioneiros” (protagonizado pelo ator Rodrigo Santoro), “Todo dia a mesma noite” (adaptação do triste incêndio na Boate Kiss) e a 2ª temporada de “De volta aos 15” (com Maísa Silva, Camila Queiroz e João Guilherme Ávila), no ar pela Netflix, e mesmo com um currículo estrelado mantém o espírito daquele menino que sonhava em ser grande.
— Lembro até hoje das peças infantis que eram feitas na Escola Municipal Sete de Setembro, onde fui alfabetizado. As fantasias e dos cenários da peça “O Rapto das Cebolinhas” e “O Fantasminha Pluft”, realmente fascinavam. Quando o grupo de teatro da escola se apresentava na Casa de Cultura, a minha madrinha, Rosmari Kriger, então diretora da escola, me levava ao espetáculo. Quando acabava a peça, íamos até os camarins e via como tudo era feito por trás do palco e adorava — conta William, leonino do dia 3 de agosto e companheiro do médico cardiologista Fernando Oliveira, que se encanta pela magia dos bastidores. Essas experiências moldaram sua paixão pela criação e impulsionam sua carreira cinematográfica — Referência, pra mim, nada mais é do que um olhar com sensibilidade para tudo que nos cerca — complementa.
Com sua jornada em constante evolução, William Valduga prova que é possível alcançar os sonhos e manter viva a conexão com as raízes. Sua história é um lembrete inspirador de que o reconhecimento profissional e o sucesso não devem nos afastar de nossas origens, mas sim fortalecer nosso vínculo com a comunidade e os valores que nos moldaram.
— São Paulo e Caxias do Sul são cidades bastante diferentes. Caxias, apesar de preservar características desde seu início no interior do Estado, foi muito importante na minha trajetória. São Paulo é uma metrópole que se comunica com o mundo, onde tudo tem grandes proporções. Acredito que vivenciar uma cidade como São Paulo nos coloca em outro ponto de vista dentro de uma sociedade, morar aqui é presenciar e estar conectado o tempo todo, mas também perceber o quanto é preciso olhar mais para seu entorno. Caxias é a calmaria do interior e a proximidade entre as pessoas — encerra.
Raio-X:
- Um destino inesquecível e o porquê? Bangkok, primeira viagem ao lado do Fernando.
- Um filme para assistir inúmeras vezes: Central do Brasil, dirigido por Walter Salles.
- Gostaria de ter sabido antes… a diferença entre equidade e igualdade.
- O que mais respeita no ser humano? Dedicação e humildade.