O estilista Fabrício Antonio Gelain de Prá, 27 anos, filho de Antoninho Francisco de Prá e Diva Gelain de Prá, natural da Linha Blessmann Poente, em Nova Roma do Sul, alinhava os dias com um pensamento humanista e causa no segmento. Caxiense, graduado em Moda e Estilo com especialização em Modelagem de Moda e confecção de peças em alfaiataria pelo instituto Centro Internacional de Innovación en Diseño Imaginarte, em Guadalajara, no México, é o criativo à frente da marca Rico Bracco. Ele tem uma particularidade que mistura a tradição e a multidisciplinaridade com uma compreensão das silhuetas e construções modernas que transpassam o tempo. Conheça o pensamento que molda os dias deste canceriano apaixonado por pensamentos filosóficos progressistas, contemplador da arte em suas diversas facetas, admirador da essência e incentivador da economia circular, que se entrega profundamente às suas convicções!
Qual sua memória mais doce da infância? Cruzar o Rio das Antas, pela balsa de ferro tragada pela ferrugem, na companhia dos meus pais, à bordo de um fusca azul. Me remete à nuvem de poeira que se erguia da estrada de terra.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Adoraria voltar sob a pele de Elis Regina, sou encantado pelo seu talento e carisma.
Qual foi a roupa que vestiu e que mais evoca lembranças? Por quê? Um casaco de lã amarelo que pertencia a minha Nona Adelina Tessaro Gelain (in memoriam). Encontrá-lo colgado no cabide em seu antigo guarda-roupas foi como um chamado a perceber a sua história e vesti-lo foi como ser transportado através de suas memórias à década de 1980, que inclusive, é um período que por suas linhas estéticas, me inspira a criar.
A melhor invenção da humanidade? A linguagem e suas camadas de expressão.
O que é ter estilo? É saber decodificar olhares sensíveis, uma perspectiva bela do mundo, expressando plasticamente um conjunto visual que é irreverente aos ventos externos, independentemente do quão forte eles sopram, remanescendo no tempo.
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Fabrício na ponta da agulha em cinco pontos:
- Agora;
- Filosofia;
- Colaboração;
- Ancestralidade;
- Conhecimento.
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Qual é a sua história com a moda, como começou e por que decidiu seguir por esse caminho? Aos quatro anos minha mãe me apresentou a animação Cinderela, da Disney. Fiquei encantando com os ratinhos que costuravam um vestido com empolgação, então comecei a desenhar, apenas fantasiando personagens e detalhando minuciosamente suas vestes, que em geral eram adornadas com laços pomposos e mangas franzidas e bufantes. Quando tinha por volta de seis, vi pela primeira vez minha avó paterna, Maria de Césaro de Prá (in memoriam), costurar em sua máquina, pedalando com um ritmo fantástico, então ela me ensinou a cortar roupinhas. Aos 15 anos, me inscrevi no curso técnico de costura e modelagem do SENAI, que durou dois anos, orientado por professoras muito amorosas e cuidadosas com a didática: Janete Toscan e Neura Rita Colombo. Ao concluí-lo, simultaneamente com o ensino médio, ingressei no curso de Design de Moda da UCS, no qual de fato desenvolvi minha linha de estilo de criação voltada para a sustentabilidade e matérias-primas naturais.
De onde surgiu a assinatura Rico Bracco? É composta pelo apelido do meu avô materno Rico, de Henrique Gelain (in memoriam), com Bracco, que é uma raça de cão de caça italiana, que o acompanhou quando ele migrou para o Brasil. A família Gelain, ficou conhecida como a família Bracco, em função de sua matilha e de seu hábito pela caça nos períodos de escassez de recursos para a alimentação no início da colonização. A carne que dividia com outras famílias do povoado da Linha Blessmann Poente, garantindo subsídios em comunhão. Daí surge a inspiração do nome da marca e da vertente da matéria-prima utilizada para construir a alfaiataria contemporânea que me proponho a realizar: o linho, como a tela da imigração.
Como funciona o seu processo criativo? É completamente emocional e sensorial, sou bastante saudosista e por muitas vezes já falaram que pareço ter sido transportado de algum século muito remoto.
Conte sobre os destaques que recebeu? Em 2012, fui laureado como aluno destaque do curso de costura e modelagem do SENAI. Já, em 2016, ainda no processo de graduação, fui contratado para ministrar classes de alfaiataria no CIIND Imaginarte, em Guadalajara, no México. Neste processo de intercâmbio, desenvolvi duas coleções colaborativas: uma em parceria com a designer Geraldina Herrera, membro integrante da Camara de Joyeria de Jalisco. Criamos para esta coleção kaftans de seda e joias em prata de lei, a qual foi apresentada na Semana de Moda de Guadalajara; a segunda em colaboração com a designer Zaira Gonzales, criadora e proprietária da marca Defactori. Exploramos o desenvolvimento de superfícies, trabalhando com cabelos humanos bordados sobre ponchos de algodão e lã. A coleção foi apresentada em um cruzeiro particular de designer e criadores em San Diego, Califórnia, EUA. Ao regressar à UCS para conclusão do curso, fui premiado em primeiro lugar nos dois únicos concursos presentes no currículo: UCS/COOTEGAL 2017 e UCS/SULTEXTIL 2018, este último me conferiu uma viagem a Paris para visitar a feira Première Vision.
Reflexão de cabeceira? Faça hoje!
Quais são os seus planos? Prospectar mais parceiros para ampliar o projeto de agricultura orgânica de linho, objetivando resgatar o plantio dele no Brasil, técnica tida como patrimônio imaterial da cultura da imigração italiana, promovendo renda formal para agricultores em territórios que tem grande índice de êxodo rural pela falta de oportunidades, de desenvolvimento da região e de incentivos culturais.