Em busca de um outro tempo
A artista visual Gabriela Stragliotto, 31 anos, é também uma leitora voraz e dona de uma personalidade inquieta. Curiosa pelos movimentos urbanos, a caxiense filha de Henio e Edite Stragliotto formada em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, em Porto Alegre, onde residiu por 12 anos. Atualmente, encara dia a dia as agitadas e populosas ruas e avenidas de São Paulo, cidade que tem sua admiração por conta da evolução constante e inovadora em suas múltiplas esferas. Hoje, ela combina a pintura com instalações em áudio, vídeo e texto. Suas obras são paisagens desconstruídas, frequentemente habitadas por personas figurativas contemplativas, e buscam investigar as experiências mais abstratas e subjetivas da vida contemporânea. Conheça Gabriela, um talento com olhos no mundo que levará suas criações em exibição a partir do dia 25, na Galeria GI, da marchand Gisele Paim Baggio Zampieri!
RAÍZES
Gabriela Stragliotto: Minha família vem da agricultura, então, na infância, viajei bastante pelo interior do Brasil. Íamos com frequência até o Mato Grosso, de carro, por causa do trabalho dos meus pais. Acredito que muito do meu interesse inicial pela arte vem dessa experiência de cruzar e conviver com paisagens, territórios, pessoas diferentes - de contemplar e me apropriar dessas impressões visuais variadas. Busco estar presente, viver de forma autêntica com quem se é e explorar.
PERTENCIMENTO
Tenho uma rotina que me cabe bem, ando empolgada com o futuro e me sinto mais corajosa e confiante. É curioso que não consigo selecionar a passagem mais importante da minha vida. Diria que é hoje, se não fosse essa, seria uma memória da infância: minha mãe lendo para mim e me ensinando a desenhar. Foi ali que descobri minhas paixões. A vida é uma obra “Sem título”, inacabada, em processo de pintura.
MUNDO TODO
Em uma cidade como São Paulo, o ritmo é o que mais me impressiona. Meu cotidiano foi definido na infância em Galópolis e vai seguir para sempre comigo, então tenho que me esforçar para acompanhar uma cidade como essa. E Galópolis, particularmente, fala com uma parte muito íntima minha. Mas como os meus interesses seguem os mesmos, acabo descobrindo material para criar em ambos lugares, o que me faz muito bem.
O SENTIDO
Sinto que estou à beira de algo. Por isso, acho que esses dois anos que passei reclusa, por causa da pandemia, trouxeram as descobertas mais importantes até agora. Acredito que vou trabalhar por muito tempo na pesquisa que comecei nesse período. Tenho formação livre em Artes Visuais, entrei no meu primeiro ateliê de pintura ainda na infância e tenho aprendido e experimentado muito no decorrer dos anos.
INTENÇÃO
Hoje vejo a arte como um processo ativo ou uma ferramenta por meio da qual algo se transforma e se potencializa. Penso que a arte amplia a nossa experiência, nos faz esbarrar em novos significados. O fazer do artista tem algo de egocêntrico (digo isso com bom humor) mas no fundo é muito precioso: nos dá a possibilidade de materializar parte do que se é ou do contexto em que se vive, combinar experiências em elementos novos, questionar o que existe ou enaltecer um detalhe particular da vida. A arte é maleável, permite quase tudo.
PROCESSOS
Tem uma textura que eu faço, que são vários círculos vazados sob um fundo de cor, que fica como uma renda ou uma tela e é demorada e repetitiva - mas é bastante terapêutica. Sempre volto a esse elemento porque ele tem algo de meditativo e controlado que me faz bem.
ESFERAS DA FILOSOFIA
"Dizem que os ícones são de barro." - Nunca tinha ouvido essa expressão! Para mim, parece sinalizar que são moldáveis, construídos de coisas mundanas e, por consequência, imperfeitos: os primeiros que pensei são escritores, inúmeros, que me acompanharam na vida. Vou citar os que me vêm agora para não ficar muito abstrato: Simone de Beauvoir, Fernando Pessoa, Ursula Le Guin e Haruki Murakami. São muitos, diferentes entre si, e nos permitem pensar e viver melhor.
AS MÚSICAS FAVORITAS DA PLAYLIST
Gosto de rock, blues e MPB. Na verdade não entendo muito sobre música e gosto de várias coisas ao mesmo tempo. No momento o que está no repeat é um álbum que gosto de ouvir para pintar: Music for Saxophone and Bass Guitar, de Sam Gendel e Sam Wilkes. E podcasts e audiobooks, ouço muito também.
PERSPECTIVA
Um país precisa ter igualdade, saúde, educação e perspectiva para todos, são direitos básicos que não deveriam ser negociados. A definição da palavra ideal supõe que um dia a gente chegue em um lugar perfeito e pare por lá. Ou que existe um mesmo ideal para todo mundo. É preciso organização ao redor do respeito, muito respeito pelas individualidades e particularidades da vida dos seus cidadãos.
TRÊS ATITUDES PARA O EQUILÍBRIO:
- DIÁLOGO;
- PROPÓSITO;
- SONHOS.