Como bate o coração de Márcio!
O médico Márcio de Vargas Salbego, filho de Antônio Nelci Salbego e Eunice de Vargas Salbego, nascido em Santa Maria, é graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria, com residência em clínica e cardiologia no Hospital Nossa Senhora da Conceição e no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Há muito radicado em Caxias do Sul, Márcio é casado com a médica dermatologista, Grasiela Monteiro e pai de João Pedro e Henrique Monteiro Salbego e atualmente é Diretor Técnico do Instituto de Cardiologia da Serra.
O que é o bom da vida? Abraçar meus filhos e minha esposa, e levá-los para visitar meus pais.
Que conexão faz com a sua infância? A maior de todas é o amor de minha mãe, mas também gostava de visitar o avô, Marcelino Vargas (in memoriam), que sempre me dava um livro para ler, e visitar minha avó, Dozolina Salbego (in memoriam), que me mandava debulhar milho e carpir o pátio. Estes fatos moldaram a minha personalidade. Virei um autodidata, aprendi a gostar de ler, trabalhar e de me dedicar à família.
Qual a passagem mais importante da tua biografia? O nascimento dos meus filhos. O título seria, Pai e trabalhador.
Ao lado de quem gostaria de ter sentado na época da escola? Jesus Cristo me fascina e também gostaria de ter sentado ao lado de Leonardo da Vinci.
Se tivesse vindo ao mundo com uma legenda ou bula, o que conteria nela? Diria o seguinte: fé inabalável.
O que te inspira? É formar uma família feliz e em paz. Na profissão é mudar a vida das pessoas, aliviar seu sofrimento.
Como a pandemia e o isolamento social tem afetado o coração das pessoas? A pandemia é um evento da natureza, uma catástrofe é verdade, mas que não tem um culpado. Pandemias ocorrem ciclicamente ao longo da história da humanidade. Infelizmente os seres humanos a usam como pretexto de seus interesses. Embora a guerra seja algo muito pior, estamos vivendo uma catástrofe na saúde pública, sem precedentes nos últimos 100 anos, tanto diretamente pela doença, quanto indiretamente sobre a incidência de quadros de ansiedade, síndrome do pânico e depressão. Suas consequências sobre a saúde cardiovascular, quanto pelas doenças que não estão sendo diagnosticadas e tratadas precocemente, espero que todo este sofrimento traga alguma lição positiva para cada um de nós.
Quando decidiu seguir o caminho da cardiologia? Ainda criança um vizinho teve morte súbita e aquilo me intrigou. Como alguém poderia morrer sem estar aparentemente doente? Meu pai me disse que aquilo deveria ser problema cardíaco. Fui para a biblioteca do colégio em São Francisco de Assis, onde fui criado, e comecei a ler tudo que podia sobre o coração. Tinha dez anos na época. Hoje trabalho com clínica e imagem cardiovascular. Gosto de ficar admirando a fantástica e inexplicável criação de Deus. Estarmos vivos já é um milagre.
Quais os principais desafios da cardiologia nos dias atuais? O maior de todos é trabalhar o estilo de vida do paciente. É preciso estudar arduamente e ter muita paciência e persistência. Nossa saúde é determinada pelos nossos genes e pela sua interação com o modo de vida que escolhemos para nós: como dormimos, como nos relacionamos e lidamos com o estresse, como nos nutrimos e movimentamos e como nos protegemos e lidamos com o risco. Se a cada dia nós tentarmos ser um pouco melhores, a repercussão sobre a saúde será enorme a longo prazo. Hoje é o único dia que temos.
Quais motivos pode destacar como os mais comuns que levam a doenças como hipertensão arterial e diabetes? Sem dúvida a má nutrição e o sedentarismo. Nossa geração adotou a comida processada, por ser rápida, mais barata e muitas vezes vendida como entretenimento. De agricultores viramos trabalhadores de escritório, com pouca energia disponível para desenvolver a força, o equilíbrio e o fôlego. Isto resultou nesta explosão de doenças crônicas que estamos vivendo e não tenho dúvida, está limitando a qualidade e a expectativa de vida que poderíamos alcançar. Outro ponto fundamental é o estresse e a ansiedade. Vejo pessoas que têm tudo de material, mas que emocionalmente estão muito doentes. Aonde isso irá nos levar?
Por que a má alimentação e o sedentarismo são os grandes vilões da nossa saúde? A adição excessiva de sódio, açúcar refinado, gordura industrializada está inflamando nosso organismo. O sedentarismo está terminando com nossa massa muscular. Podemos pensar que resolveremos tudo com os remédios que compramos, mas algum dia descobrimos que estávamos errados. As soluções são mais profundas. Estão na maneira em que vivemos.
O que faz seu coração bater mais forte? Chegar em casa e abraçar meus filhos e minha esposa. Jamais me sentirei bem-sucedido se não tiver o amor e a confiança deles.
A pandemia do novo coronavírus trouxe diversas mudanças para o cenário político e científico, como diferenciar o que é ciência e o que é “achismo”? A minha verdade pessoal é que o conhecimento humano é inexato e parcial. O que funciona bem em um organismo não funciona tão bem em outro. Há grande margem para interpretação. Para uma conclusão adequada a ciência precisa de randomização e grupo controle. O mais importante é a argumentação com o profissional médico que está a sua frente. Ele tem a responsabilidade moral e cível sobre a vida do paciente. É a pessoa certa para confiar. Quando em dúvida, também podemos ouvir uma segunda opinião. Gurus da internet não tem nada a perder.
Quais seus projetos para o futuro? Está trabalhando em algo novo? Estou trabalhando como Diretor Técnico do Instituto de Cardiologia da Serra, junto com meus sócios, os também cardiologistas Fábio Camazzola, Alexandre Brentano e Marcelo Sabedotti e toda nossa excelente equipe de colaboradores. A missão é levar acesso a um diagnóstico e a um cuidado cardiovascular de qualidade a toda população da Serra gaúcha. Outro desejo é concluir o projeto de medicina de estilo de vida que iniciei na Harvard Medical School, em Boston e realizar um curso de Cardiologia na Mayo Clinic, nos Estados Unidos.
Gostaria de ter sabido antes... educar uma criança e desenvolver um ser humano é algo inestimável.
Um hábito que não abre mão? Alimentação minimamente processada, exercícios regulares, bom sono e a minha inseparável leitura.
Um talento que ninguém conhece: gosto de escrever. Algum dia publicarei um livro.
A melhor invenção da humanidade? A agricultura, pois determinou a sobrevivência do ser humano.
Traço marcante de sua personalidade? Humildade, ensinada por meu pai, e curiosidade, ensinada pela vida.
O que tem feito para impactar o mundo e as pessoas de maneira positiva? Gosto de escutar, sem julgar e usar meu pequeno conhecimento para ser uma força positiva na vida dos pacientes e seus familiares. Tento ser uma boa gota no grande oceano.
Reflexão de cabeceira? Atualmente estou lendo a coleção “Incerto” do matemático Nicholas Nassim Taleb. Um dos princípios: “Ética é aquilo que você faz quando ninguém está lhe observando”.
Um forte desejo: meu sonho é que todas as crianças tenham acesso a uma boa educação.
O que mais respeita no ser humano? O poder do trabalho honesto.
Com que mensagem encara o mundo? Busco a justiça, a liberdade e uma missão.