O pequeno Antonio, sete anos, entra na sala para avisar ao papai Matheus que o papai Fernando vai chegar em breve. Na mesa, Murilo, dez anos, desenha e se aventura nas aquarelas. Quando o médico mastologista Fernando Vivian, 50 anos, entra em casa, a família está completa.
– Já pulei até de paraquedas, mas filho é o esporte mais radical que experimentei – diz Vivian, cercado pelo marido Matheus Massochini, 40 anos, e os dois filhos adotivos.
A conversa sobre paternidade é inevitável num lar com a presença de dois pais para dois filhos.
– Não consigo falar dos guris sem lembrar do dia em que eles chegaram. Ser pai adotivo é ser um pai com estrelinhas. Sempre desejei ser. A paternidade é meu forte. Fui criado entre irmãos e primos. Gosto de Natal barulhento com muita gente reunida. Passar a noite em claro cuidando da febre dá a sensação de zelar pelas crias. Isso tudo me trouxe um grande aprendizado – diz o filho de Galdino Vivian e Eunici Vargas Vivian.
Fernando Vivian nasceu em Porto Alegre, cresceu em Osório, serviu no exército de Uruguaiana, concluiu doutorado em São Paulo e por duas vezes estudou na Itália, se especializou em Ginecologia na Universidade de Firenze e fez residência em Mastologia no Hospital de Milão, mas adotou Caxias do Sul como sua cidade. Se confessa um caxiense de raiz, é respeitado na profissão, pela família que constituiu e se declara feliz pela trajetória traçada e conquistada.
– Me dou muito com muita gente, conheço a história de Caxias que muitos amigos que são daqui não conhecem. Me miscigenei – conta sorrindo.
Doutor em Ciências, servidor público da Saúde, ele exercita a paixão pelos encontros também como professor do curso de Medicina da UCS e pelo tratamento de pacientes com câncer de mama com um cuidado que é muito humano. O ofício é herdado do pai e do avô Fioravante Vivian.
– Sou apaixonado por saúde pública. Os alunos sempre me remetem aos meus filhos, talvez por que eu acredite e cultue a família. Ensinar nos imortaliza. Me importa que sejam pessoas boas. Pois uma pessoa boa é um bom profissional. Enquanto estou brigando é por que ainda vejo esperança – ensina.
Dizendo-se metódico, obsessivo e visceral, ao mesmo tempo é afável e muito sentimental.
– Ouvir das crianças um ‘papai eu te amo’ me afrouxa as pernas. Sou chorador, choro vendo comercial de margarina. Me emociono com tudo o que é sincero – confessa.
Vivian defende a liberdade e os afetos reais para viver bem no mundo. Exigente consigo, exigente nas relações sociais.
– A não ser por algo que eu tenha feito de errado, ninguém me desmerece. Trabalho muito minha autoestima e coragem. Por que ninguém é melhor do que ninguém. Tinha preocupação com o que os guris iam enfrentar, mas foi por nada – fala, ressaltando que transparência é um valor fundamental em suas relações: – Tenho pavor de não saber com quem estou falando.
Nesse ambiente, ele, Matheus, Murilo e Antonio constroem laços festejados em constantes viagens para lugares como Rio de Janeiro, Israel, França e Itália. Nesses périplos, educa o gosto dos filhos.
– Sempre busco colocar os meninos em programas culturais, ir a museus. Gosto que vivam a cultura, as coisas boas – afirma.
No meio disso tudo, Vivian também é um apaixonado por Star Wars e gremista inveterado.
– Sou da rua, sou do esporte, gosto de futebol. O prazer de viver é voltar para casa, saber que dei meu melhor no trabalho, e vou encontrar meus filhos. Ser pai é o meu projeto de vida.