No abrir da primeira gaita e no acender de uma fogueira, às vésperas de um São João, ele nasceu. No dia 23 de junho de algum ano perdido na eternidade, a qual ele ainda acredita existir, João Pulita começou sua história. Membro de uma família numerosa, com sete irmãos, deixou Bento Gonçalves e rumou para Caxias do Sul logo aos oito anos. Na chegada à cidade, o que marcou Pulita não foram os salões imponentes ou os teatros grandiosos.
- Achei tudo muito estranho quando cheguei aqui. Eu morava na Cidade Alta, em Bento Gonçalves, e lá não havia quase carroça. Me chamou a atenção. Como havia carroça em Caxias do Sul! Nos impressionava - lembra João, que sempre viveu em comunidade: - Esse verbo compartilhar, tão usado hoje em dia, já era muito comum para nós. Em oito irmãos, aprendemos a convivência em grupo. Sempre tive essa facilidade de conviver em grupos porque cresci assim. Fomos educados ao servir, ao ajudar, ao auxiliar. Meus pais sempre enfatizaram isso.
A chegada ao jornal Pioneiro, na década de 1980, foi consequência de um caminho traçado com outras formas de comunicação. Apaixonado por teatro, Pulita integrava o Oficina Um, da Universidade de Caxias do Sul. João também era marchand em uma galeria de arte, uma espécie de divulgador de artistas e exposições. Assim foi convidado à editoria de variedades.
- Minha entrada no Pioneiro se deu com esse canal aberto que eu tinha com as editoras da época, a Eulália Isabel Coelho e a Neri Pedroso. Elas gostavam da forma como eu circulava nesses meios. Se reuniram comigo na galeria de arte e me convidaram para ser um colunista semanal - relembra Pulita, que deu início assim, em 1987, à coluna Outras Palavras: - Ela tinha uma pegada mais jovem e retratava um público que não tinha muito espaço no jornal. Bailarinos, atores, artistas plásticos, cantores e DJs. E caiu nas graças do público.
A efetivação no jornal só veio após dois anos. O nome João Pulita estava solidificado na sociedade caxiense. A mudança para a coluna diária, falando de sociedade, ocorreu em 1992, quando o Pioneiro se integrou à RBS.
- Como eu já passeava bem dos salões mais tradicionais à música eletrônica, segui uma jornada interessante. Fui o primeiro colunista do Brasil a publicar fotos em cor. Era uma por dia. A única colorida no Pioneiro também.
A busca de Pulita por conhecer as pessoas e de formas de comunicar facilitou a aceitação dos caxienses:
- Eu sabia nome e sobrenome de quem tinha um certo destaque na comunidade. Usava uma nova linguagem para também falar com os jovens. Essas pessoas, hoje, são pais dos que continuo a mostrar na coluna. Acompanhei a história de muitas famílias.
Valorizar o teatro na década de 1980 era uma missão difícil. Numa fase de mudanças políticas e com o pouco espaço, era uma luta constante:
- Era um projeto heroico. Montávamos espetáculos a muito custo e mal conseguíamos apresentar. Fomos abrindo caminhos para a nova geração, que ainda sofre muito e tem dificuldades.
O colunista e o ator conviveram juntos. Sempre atuante, Pulita passou também a fazer comunicação na noite caxiense.
- Trabalhava públicos. Esse meu estado de ser sempre me ajudou muito nessa caminhada. Eu formava públicos, fazia a coisa acontecer. Com as pessoas. Sempre com as pessoas.
Canceriano, Pulita tem uma relação difícil com o tempo. Entre tantos sorrisos, há o menino olhando o quanto há de carroças na cidade, e que não assimila os danos que o tempo traz.
- Ainda tenho esse pensamento ingênuo que as coisas são eternas. Isso me faz sofrer muito. Acho que tudo é para sempre. Sofro com os finais. Até na festa. Ela sempre é eterna. Quando acaba dá uma desolação, uma tristeza. Agora saio antes das festas, para não sofrer o fim. Trabalho isso em mim, pois nem os brilhantes são eternos.
João Pulita é uma parte importante da história de Caxias, e o contrário também. São 30 anos de Pioneiro, e uma estrada de incontáveis sorrisos que levou nas páginas de um jornal.
No próximo sábado, tem Feijoada
Como já se tornou tradição a cada ano, no próximo sábado, dia 23 de junho - justamente no aniversário do colunista -, ocorre a 20ª edição da Feijoada do Pulita. Desta vez, a programação comemora os 20 anos da Feijoada, os 30 anos da coluna Sociedade e os 70 anos do jornal Pioneiro.
Capitaneada pelo colunista social João Pulita, a programação tem como tema a fé brasileira e vai reunir boa gastronomia, diversão e solidariedade, beneficiando 17 entidades. Os ingressos podem ser adquiridos com os comendadores ou diretamente com as entidades.
Entre as atrações já confirmadas estão DeClassic, Projeto Piano e Voz _ Paola e Gabriel, DJ Danna, The RoBert's e Vini Netto. O cerimonial estará a cargo do ator Davi de Souza e do dançarino Rodrigo Scherer.
Agende-se
:: O quê: 20ª Feijoada do Pulita.
:: Quando: dia 23, às 11h; o Sunset começa às 15h.
:: Onde: no Intercity (Av. Therezinha Pauletti Sanvitto, 333), em Caxias do Sul.
:: Quanto: R$ 260; para quem prestigiar apenas o Sunset, R$ 130.
Entidades beneficiadas:
:: Aapecan
:: Anjos Voluntários
:: Apae
:: Associação Beneficente Gelcindo Nunes
:: Associação Criança Feliz
:: Centro Assistencial Portal da Luz
:: Centro Assistencial Vitória
:: Centro Espírita Jardelino Ramos
:: Espaço Holístico Semeando Luz
:: Instituto Filhos
:: Lar da Velhice São Francisco de Assis
:: Liga Feminina de Combate ao Câncer
:: Mão Amiga
:: Patna
:: Pra-Vida
:: Rim Viver
:: Scan - Associação Caxiense de Atenção ao Idoso
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