Nesta semana tive uma experiência emocionante ao conhecer os olhos vivazes e a personalidade inquieta de Bertha Irma Espel Sosa, uma senhorinha baixinha e serelepe de 92 anos que reside no Lar da Velhice São Francisco de Assis. No encontro, ela discorreu sobre sua estressante rotina, de sua incomodação em ter que ingerir tantos remédios e do revezamento para o banho matinal. No encontro falou também dos seus pais, Jacol e Concepcion Paulina Espel, ela brasileira e ele uruguaio, da sua vida e dos tempos difíceis de sua infância na cidade de Santana do Livramento.
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Bertha, que nasceu no dia 1º de julho de 1922, cresceu dividida entre a língua portuguesa e o castelhano e até hoje mistura termos das duas para se expressar. Conheceu muito também a terra de seu patriarca e tem na cidade de Montevidéu, no Uruguai, suas mais felizes lembranças.
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Ao se casar, em dezembro de 1952, com Rogério Sosa, ainda tentou a vida em Santana do Livramento, mas com a falta de trabalho na fronteira do Estado, o casal decidiu vir em busca de oportunidades em Caxias. Após a morte do marido, Bertha foi morar na casa da sobrinha Maria Bernardete e lá ajudou a cuidar dos filhos dela. E é esta sobrinha o elo de Bertha com os laços da família. Bernardete é quem visita a tia regularmente e a enche de mimos. Há 20 anos no Lar da Velhice, ela conta que não teve filhos e descobriu que "filho não cuida de ninguém, quando volta pra casa é porque está precisando de alguma coisa ou é só para incomodar" , revela.
"Meu dia a dia é normal, gosto de usar batom e acessórios. Ah! (disparou) Adoro sapatos!" Hoje o que faz Bertha feliz é descobrir, no dial da rádio, músicas do repertório do cancioneiro gaúcho e o tango, comer ravióli e cáqui, dormir e bordar. Do restante, pergunto: "Saudades do passado?", o que ela responde: "Saudade nenhuma, existiram coisas na vida que não se devem repetir. O que passou, passou, melhor não recordar." E voltou a falar em castelhano: "La vida se va com el viento". Saí de lá com a promessa de visitá-la novamente em breve.
* João Pulita é colunista social do caderno Comportamento
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João Pulita
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