Muitos haverão de dar uma resposta negativa, de maneira genérica. Será? O fato é que o exercício da masculinidade quase sempre pressupôs a dureza e a redução de um espaço afetivo. Evoluímos, com certeza, mas o caminho a percorrer ainda é longo. As convenções têm um enorme peso nas nossas atitudes. O olhar alheio estabelece como reagimos diante das situações. A maioria segue o roteiro de sua época e nem se questiona se poderia ser diverso. O resultado é o que se vê por aí: criaturas rasas, mais preocupadas em viver na pura exterioridade. Mas por trás há uma dificuldade em romper com tantos condicionamentos. Isso, tristemente, às vezes vem agregado a atos violentos, buscando a posse nas relações amorosas. O uso da força física se torna um aliado e a morte ronda inúmeros relacionamentos. Exagero? Dê uma espiada nas páginas policiais.
É possível fazer algo para alterar a situação? Se o carinho pudesse circular livremente, ganharíamos muito. Mas resistimos em nome de “o que vão pensar de mim?”. Convenhamos, o problema é deles, em nada deve nos afetar. As mulheres, ao contrário, estão autorizadas a manifestar entre si o que sentem e ninguém duvida da sua “opção”. Nós, ao contrário, batemos com certa agressividade nas costas do amigo, usamos palavrões e o ritual entre machos adquire legitimidade. Coitados! Eu já sou um abraçador contumaz. Se morasse nos Estados Unidos teria sido vítima de vários processos. Sentindo vontade, me ofereço para estabelecer um contato físico. É bom demais! A consequência é o desenvolvimento de uma subjetividade sem relação com determinados códigos sociais. Nem todos gostam de falar compulsivamente em futebol, peitos ou conquistas profissionais. É tóxico acreditar em uma heterossexualidade colada à grosseria. Felizmente, a nova geração está aprendendo a ser mais solta. Falam de tudo e expressam uma sexualidade fluida, para usar um termo da moda. Vi isso recentemente em um encontro com alunos de um colégio local. Dois adolescentes, sentados próximos, com o braço estendido sobre o ombro do colega. Achei bonito.
Tenho grande esperança de que em breve se modificará a ideia de associar virilidade a comportamentos de natureza bruta. O que hoje é quase padrão haverá de ser uma remota lembrança de um tempo com menos liberdade. Afinal, estamos aqui também graças às nossas vulnerabilidades. Rir juntos é ótimo e chorar, terapêutico. Ser o sexo forte significa lidar bem com os sentimentos. Desconheço as vantagens em posar de Rambo, ininterruptamente. Relaxem, rapazes! Vai uma dica: para encantar alguém, busque o seu renegado lado feminino. E, lembre-se: a dualidade na qual está ancorada a pedagogia educativa das crianças é uma mera construção. A cultura, sobrepondo-se aos instintos, é a responsável pela criação de uma identidade de gênero monolítica.
Torne-se o que você é. Essa fórmula filosófica representa uma solução para mudar radicalmente. Creia, é bem melhor existir de maneira leve, sem precisar entregar provas para ninguém. A diferença pode estar na igualdade.