Tudo pode ser dito? Definitivamente não. Conviver com os outros implica equilibrar-se entre a expressão da verdade e algumas omissões verbais, promovendo relacionamentos pacíficos. Tenho me deparado, ao longo da vida, com homens e mulheres arvorando-se o direito do uso irrestrito da sinceridade. Declaram o que pensam, ignorando qualquer filtro. É um ato de coragem, mas também arrogância, pois deixam de levar em consideração como isso afeta seus interlocutores. A sensibilidade deve sempre priorizada. Recuso-me a fazer parte dessa confraria. Busco o comedimento, testando os limites da linguagem usada. É preciso cuidar o quanto uma frase ou opinião impactantes afetam a pessoa com a qual discutimos determinado assunto. Chama-se isso de respeito, uma espécie de valor apartado de uma época que prima pela expansão do eu. Uma habilidade que vamos assimilando ao logo da existência, depois de vários tropeços - instrutivos para a formação do nosso caráter. Conter-se requer disciplina interior e uma boa dose de humildade, freando impulsos egoicos. “Eu posso, eu quero, nada é tão libertador”, afirmam os que se exprimem sem antes analisar a repercussão de suas palavras. Confesso já ter admirado essa capacidade de seguir em frente, longe de me preocupar com a opinião alheia. Hoje acho temerário e esforço-me o máximo possível para agir com delicadeza, fugindo de brigas e atritos de toda ordem.
Há quem se sinta autorizado a agir dessa forma por estarem na maturidade. Já se reprimiram muito e agora vão em busca de algo mais próximo da autenticidade, sem levar em conta as implicações emocionais sobre os destinatários de tal decisão. Posiciono-me em sentido exatamente contrário. Devemos aprender o valor da prudência, da reflexão precedendo os arroubos. É deveras agradável encontrar quem é cuidadoso com nossa visão de mundo, acolhendo-nos atentamente para só então se manifestar. Evita-se, assim, um embate desnecessário, mantendo a civilidade e aceitando as divergências. Coloco em prática tal comportamento e o resultado é animador. Estendo meu olhar e abraço a maneira de ser dos demais, compreendendo a minha fala como apenas um ponto de vista. A velhice não haverá de me autorizar a dizer o que me vier à mente. É desagradável conversar com esses arautos das certezas, convictos de poderem colocar de lado a gentileza, falando aos borbotões. Correm o risco de se tornarem chatos em tempo integral.
A questão é de equilíbrio. Não precisamos falsear nada, apenas exercer a prudência. Em nossos dias, calcados no egoísmo, sair do próprio casulo é um ato bem-vindo. A experiência é um salvo-conduto. Valhamo-nos dela para fugir da tentação de erguer um altar para nós mesmo. Fale, mas procure exercitar a ponderação. A chance de ser ouvido aumentará bastante. O esforço é compensador.