Este texto será confessional. Mas, suspeito, de grande utilidade para os que se identificarem com ele. Demorei muito para me dar conta. A verdade é que tenho um pendor para o mando, exercitado em meu mundo doméstico, não no profissional. Gosto (gostava) deveras dessa prática. No correr dos anos, foi ficando claro esse traço, apontado por pessoas próximas. Mas como uma das coisas mais complexas é ver a si próprio sem condescendência, principalmente quando se trata de defeitos, fui creditando como uma característica de personalidade e tudo bem. Não me empenhei em analisar, no afã de obter ajuda para a superação. Porém, de uns meses para cá, com o auxílio da terapia e o sincero propósito de me investigar, percebi que era algo a que eu deveria ficar atento. Ao longo da vida vamos criando caminhos neurais através da repetição de condutas. E é extremamente difícil mudá-las. Mas, com tenacidade, torna-se possível. Se esclareço meus mecanismos internos, consigo assumir essa verdade. E o faço com o intuito de despertar em você, caro leitor, cara leitora, o gosto de também promover esse exame de consciência. Se constatar, com toda a sinceridade, estar livre disso, parabéns. Mas persista na leitura, pois o desdobramento dessa reflexão pode interessar a alguém das suas relações. Caso o diagnóstico seja positivo, será proveitoso descobrir ser algo mais comum do que se pensa.
Mandar tem seu lado bom; o problema é geralmente provocar desconforto ou sofrimento nas pessoas. Uma amiga que tenta se desviar a todo custo de uma briga, assinalou este aspecto diversas vezes em conversas que tivemos. Eu impunha minha vontade (normalmente envolta em simpatia) e ela ficava quieta, mesmo se incomodando. Agora já me dou nota sete neste quesito, com a expectativa de chegar a nove. Antes era três. Até então só dava evasivas. Mas sempre chega a hora de enfrentarmos os demônios interiores. É importante apontarem o quanto somos incisivos em atos e palavras. Passamos a nos comprometer em ser melhores. O tempo, em princípio, só nos torna mais velhos, sendo desnecessário trabalho algum. Porém, penso ser obrigação de cada um ir se polindo para refinar a convivência com os demais. E, às vezes, olhar-se no espelho e reconhecer o que nos desvia dessa busca constitui-se num exercício benéfico. Pretendo ser um velhinho bem legal, afável, desses que aparecem em filmes e nos encantam. É uma construção lenta, mas admirável. Agora ciente, entrego-me ao meu trabalho e espero continuar obtendo bons resultados.
Na medida em que aprendi a conter expressões contundentes, incisivas, tudo começou a adquirir contornos mais suaves, menos dramáticos. Abdico das falas imperativas e as substituo pelo acolhimento. Agora tudo parece se encaminhar bem, com a graça divina e um tanto de esforço. Sejamos honestos admitindo essas falhas comportamentais. É assim que se amplia a nossa estatura moral.