Uma maneira saudável de envelhecer é manter-se aberto a novas perspectivas e visões que se apresentam. Parar de se vangloriar toda vez que justificamos alguma postura, ancorando-a nesta desgastada frase: “Eu sou assim”. Quanto muito, deveríamos trocar o verbo por um correto “estou”. Tudo muda e requer atenção permanente, evitando a sedimentação de conceitos, abrindo-se a novas interpretações. Na juventude, ser flexível é uma constante: hoje ansiamos por isso; amanhã poderá ser o contrário. Mas o tempo e o desejo de certo acomodamento interior nos fazem abraçar determinadas percepções como se fossem definitivas. A imagem do bambu inclinando-se aos açoites do vento é eficiente para ilustrar a questão. E essa maleabilidade acontece quando nos permitimos conversar com homens e mulheres de diferentes idades, credos, concepções religiosas e políticas. Tenho dialogado com diversos amigos, buscando entendimento maior. Creio firmemente na importância de nos reconstruirmos constantemente. A acomodação pode ser um veneno se temos o desejo de manter vivo o interesse de nossos interlocutores. Em algumas sociedades os valores mais considerados, fonte de respeito e admiração, são os provenientes de idosos. Seres dotados de experiência e sensíveis aos aconselhamentos. Mas essa posição precisa ser um mérito, não somente o resultado da escalada dos anos vividos.
A diferença geracional passou a ser um abismo. O salto tecnológico instaurou novas linguagens, nem sempre compreendidas pelos que viveram imersos na realidade analógica. É um fato e a inteligência nos diz de quão inútil é lutar contra. Os benefícios são imenso, facilitando a vida de todos. Mas acho que a divergência, por assim dizer, para por aí. Livros e filmes situados em séculos passados nos mostram como somos iguais, mesmo separados temporalmente. Vamos nos modelando e seguindo os códigos vigentes. A lição é escapar das convicções duras, estanques. Vale a máxima: desista de se levar excessivamente a sério. Encante-se com novas paisagens. Por isso digo costumeiramente da tristeza em pensar na minha morte. É bom demais estar por aqui: experimentando, trocando, aprendendo. Se um dia a ciência alongar nosso prazo biológico (com a mente e o corpo sadios), será maravilhoso. Conheço pessoas que, a despeito desse convite para assimilar o novo, recusam-se, encastelando-se em suas convicções. Da parte que me cabe, sinto orgulho e gratidão por estar vergando alguns de meus preconceitos. Posso não aceitar todos os modelos de comportamento preconizados, porém evito desperdiçar um minuto sequer conjecturando como era bom antes, naquela época sim, etc, etc.
Fui, sou e serei muitos. Abraço essa multidão que recebe o enganoso nome de Eu. O mundo está em mim e eu sou o mundo. Há tanto ainda a explorar!