Gilmar Marcílio
A mãe e as tias foram pessoas profundamente religiosas. Seguiam os ritos da liturgia católica e frequentavam regularmente a igreja. Sentiam-se consoladas pelas doenças e dificuldades enfrentadas durante a vida. Era uma atitude de passividade, mas também de aceitação serena diante daquilo que não podia ser modificado. À sua maneira, atravessaram com sabedoria instintiva os momentos em que foram testadas na sua capacidade de se distanciarem da revolta contra as injustiças sofridas. Em algum momento elas farão parte incontestável da nossa existência. Infelizmente, não herdei essa forma de compreensão. A filosofia me transformou em um homem indagador, que coloca uma interrogação em quase tudo. Hesito em considerar isso necessariamente ruim, mas inevitavelmente gera alguns conflitos desconhecidos aos praticantes da fé cega. Porém, o ateísmo jamais esteve presente em minha jornada. Afastei-me da prática regular, mas continuo profundamente interessado naquilo que nos alça à transcendência. É impossível, do meu ponto de vista, distinguir o biológico e o que eventualmente sobreviverá à morte. Flerto com múltiplas crenças e tento extrair algo responsável por me conduzir para dias mais serenos, nutrindo-me desse sentimento tão vital aos seres humanos: a esperança.
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