Gilmar Marcílio
Percebi que minha amiga não estava bem. Eu falava e recebia réplicas de discordância, em tom de renovada crítica. Ao me referir a questões de trabalho, meros detalhes se convertiam num campo de batalha verbal. Talvez em tempos passados, com a agressividade mais latente, teria insistido nesse jogo para destroçar os seus argumentos. Preferi escutar com calma, concordando com algumas coisas e retornando com suavidade, sem enfrentamento. Funcionou bem. Deveríamos ser capazes de fazer isso constantemente. Desarmar nossos interlocutores com delicadeza e aceitar atitude recíproca. O desejo de ter razão ou transformar as palavras em armas toda vez que alguém nos desafia em nossos conceitos e ideias é tóxico. Porém, a resposta imediata é a de rechaçar qualquer postura diversa da nossa. Afinal, acreditamo-nos evoluídos acima da média. Na maioria das vezes isso é desmentido pela própria realidade. É preciso tempo, paciência e boa dose de tolerância. E onde encontrar tudo isso nessa modernidade frenética, imbuída de propósitos de competitividade, propensos a ignorar intenções plurais? É um exercício difícil de ser feito, mas com resultados admiráveis.
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