Uma das boas séries que vi no ano passado foi, sem dúvida alguma, Ted Lasso. Conta a história de um treinador de futebol americano contratado por um time inglês para aprimorar seu desempenho em campo, com risco eminente de rebaixamento. Além do previsível choque cultural, encontra amplas resistências. A despeito disso, não capitula. Segue em frente, ignorando o achincalhamento da torcida e dos próprios jogadores. Num primeiro momento, ele parece francamente paspalho. Engano. A palavra certa para defini-lo deveria ser essa: bondoso. Sempre vê algo de positivo nas situações, mesmo quando o xingam por suas atitudes. Vive quase num mundo à parte, mantendo firme o seu intuito de dar o melhor de si, motivando os seus colegas. Fiquei encantado com o personagem, pois representa um tipo cada vez mais raro hoje em dia. Tirar vantagem de tudo, monetizando qualquer ação, parece o máximo aspirado atualmente. Nem precisa ter um grande conteúdo a oferecer, basta colocar em ação alguma estratégia de marketing. Enquanto assistimos ao desenrolar da trama somos convidados a frequentar um terreno absolutamente diverso. Perder ou ganhar não é fundamental. A correção e a fidelidade ocupam lugar central na existência desse ser quase utópico.
Em meio a tantos diálogos primorosos, Ted diz isso: “Estão todos criticando sem parar; talvez esteja na hora de trocarmos isso pela curiosidade.” Um propósito admirável. Apontar a falha, ignorando tratar-se apenas de uma divergência de pensamento, deixa de se constituir em algo valioso. Serve para reforçar o ego. Quando saímos do confortável espaço das ideias sedimentadas, temos uma visão ampla, incorporando novas maneiras de ver o que nos cerca. Observar o que está no entorno, sem usar o filtro do egoísmo é tarefa destinado às pessoas de espírito filosófico. Investigar, ao invés de colocar o dedo em riste, apontando presumíveis equívocos. Você já tentou fazer isso? É, no mínimo, relaxante, pois nos desobriga de entrar no ringue em defesa do pensamento autocentrado. Manter firmes propósitos pessoais é saudável, mas deve-se considerar o fato de poder ser somente uma sequência de opiniões factíveis de erro, precisando de revisão constante. E a gente consegue evitar esse engessamento mantendo acesa a paixão por fatos e situações presentes no entorno. De preferência, suspendendo a inclinação para julgar. Uma coisa é acreditar; outra, bem diferente, é querer contaminar os demais com nossas verdades.
Tenho postulado, cada dia mais, a possibilidade de atravessarmos os anos de maturidade como pessoas interessantes e interessadas. Os outros enxergarão em nós não um corpo fisicamente danificado, mas uma alma luminosa, alguém capaz de despertar o apetite por conversas instigantes. A severidade enrijece o caráter, tornando-o quebradiço. Espie para fora da janela. O que antes era um cômodo fechado pode se transformar numa imensa paisagem. Lá, onde habita a sabedoria.