As pessoas correm. Fazem. Produzem com alto grau de compulsão. E estão cansadas demais. Uma das queixas contumazes entre os pacientes de consultórios terapêuticos está relacionada à excessiva demanda de compromissos. Um pouco pelo mundo nos cobrar isso, aliado ao fato termos entrado num violento processo de neurose. Felizmente, o cérebro é moldável. Quando alteramos alguns hábitos e rotinas entrevemos terreno fértil para angariar novas possibilidades. Necessitamos, com urgência, deixar de validar conceitos e atitudes patológicos. Agimos no piloto automático para seguir o fluxo do senso comum. Há questões relacionadas às cobranças do mercado de trabalho, mas é possível abdicar de determinadas oportunidades em troca da paz de espírito. É tarefa difícil, pois viver cheio de adrenalina nos impulsiona a absorver novos conteúdos. Mas há um limite para tudo. Ao longo do tempo, fui me convencendo de que considerável número de doenças fixa, primeiro, residência em nossa mente para só depois ocupar o corpo. Não sei em que proporção acontece, mas com certeza deve ser colocado na balança.
A palavra mágica parece ser esta, desde sempre: vigilância. Ampliar a consciência é determinante para sermos capazes de minimizar os resultados negativos advindos dessa overdose de tarefas e do fascínio desmedido pela informação. Pratico a religião do silêncio. Nunca tive no contato social exacerbante um propósito de vida. Gosto da dialética dos encontros e da solidão. Mas confesso: ando um tanto fora de prumo por esses dias. Faço um esforço para gastar preguiçosamente meus finais de semana. A demanda por assistir novos filmes e ler tantos bons livros também pode se constituir numa espécie de obrigação do bem. A consequência inevitável é a expansão da ansiedade por não consumir tantas ofertas. Por outro lado, deixar o celular desligado por algumas horas tem se tornado, cada vez mais, uma tarefa de disciplina e ruptura de um padrão que parece ter nascido conosco. Talvez tal comportamento ainda não faça oficialmente parte das doenças modernas, mas, na minha ótica pessoal, já está na hora de colocar uma lupa sobre essa postura. Só vociferar contra parece surtir escasso efeito. O corte nem precisa ser radical, sem anestesia. Já ajuda evitar a tolerância para com os pequenos deslizes, seguindo o exemplo dos grupos de apoio que tratam de pessoas vítimas de qualquer dependência latente.
Como na música cantada por Zezé Mota, “liberdade, abre as asas sobre nós”. Com a ressalva: no afã de voar tão alto, corremos o risco de nos perder na imensidão desse espaço. Urge cultivar novamente um jardim. Encurtar as expectativas. Parar. Ou mesclar esse frenesi todo com intervalos contemplativos. Menos trabalho, menos novidade, menos demanda. A beleza do mundo costuma entrar em nós pelos olhos.