Carl Sagan, cientista e escritor norte-americano, passou a vida combatendo aquilo que considerava um dos maiores entraves para o desenvolvimento da humanidade: as superstições. Segundo ele, difundir o pensamento mágico, na ânsia por respostas que desprezam os fenômenos naturais e entronizam a crença e a religião como fontes redentoras de todos os males, trava substancialmente o conhecimento. Desde a antiga Grécia, quando os deuses eram vistos como os responsáveis por todos os movimentos da vida, uma constante luta entre a luz e as trevas se estabeleceu. O ideal iluminista bateu de frente com essa tentativa de abandonar a razão, dando sentido a tudo pela invocação de premissas sustentadas empiricamente. Homens e mulheres imbuídos pelo propósito de ampliar a consciência sobre os fenômenos que nos cercam acabaram na fogueira ou foram silenciados através da calúnia. Evoluímos a passos lentos, muitas vezes contentando-nos com modestas vitórias, dando-lhes passagem e sustentação em nosso imaginário. Atualmente, a insistência em difundir teorias como o terraplanismo e os malefícios das vacinas são sinais inequívocos de que, ao menor descuido, podemos retroceder na busca elementar pela verdade, preterindo a lógica e o bom senso.
O desejo por explicações primárias e a recusa em expandir os resultados da experiência, encontram seu espaço neste momento em que a ignorância ocupa um papel de destaque nas redes sociais, para ficar no mais evidente. Teorias conspiratórias ganham status de verdade ao receber o aplauso de pequenos e ruidosos grupos, até então sem coragem de se manifestar. Vejo isso de maneira preocupante, pois sinaliza algo grave: para angariar aplausos circunstanciais, reafirma-se o que já deveria estar devidamente superado. Não podemos pôr de lado a investigação sistemática, sob o risco de deixar pessoas vocacionadas para o poder ditatorial se estabelecerem como os guias de nossa época. No campo da política, o debate de ideias foi substituído por uma espécie de massacre da inteligência. Falar para as massas significa repetir obviedades, repisar preconceitos, gabar-se da própria estultícia. Urge levantar a voz para, aos poucos, vermos o restabelecimento do primado da lucidez.
Qual é o propósito da vida, senão o constante aprimoramento? Historicamente, fomos acossados em diversas situações por tentativas de nos refrear, cedendo a apelos rasteiros, da ordem do coletivo. Sem as rupturas, estaríamos ainda esfregando duas pedras em busca de luz e calor. É preciso, com o máximo de urgência, convidar ao diálogo, promovendo uma amostragem dos benefícios trazidos por tantos questionamentos. Nada é definitivo. Cuidemos para que a cegueira não seja uma falsa lanterna.