Aprecio muito uma frase do filósofo Espinosa: “Ninguém descobre por nós as nossas alegrias.” Ela traduz um sentimento de independência nas escolhas que fazemos, podendo ser o projeto de toda uma vida. Afinal, como ignorar as inúmeras vezes em que delegamos a terceiros decisões cruciais? A experiência individual, boa ou ruim, nos mantém de olhos abertos. Com o impacto ainda presente no corpo, dizemos sim, não. Entregamo-nos, resistimos. Temos a obrigação de ser roteiristas unicamente de nossa história, dirigindo as cenas conforme nosso talento ou mesmo a falta dele. Será apenas pela vivência, tendo na memória o contentamento e a dor, que seremos capazes de fazer uma triagem, certos de termos optado adequadamente. Para tanto, evite ser atraído pela ideia de precisar de um manual, regras ditadas por desconhecidos com o propósito de ajudá-lo nas decisões. Obedeça mais à intuição, como uma espécie de DNA adicional que cada um carrega dentro de si.
Ao promover esse pensamento, considero também a enorme riqueza advinda da leitura de livros de ética, moral, comportamento. São bengalas que pegamos emprestadas para depois seguir por conta própria. Em nossos anos de formação, faz-se necessário copiar exemplos, espelhar-se nos outros, legitimando atitudes a partir do aprendizado alheio. Mas isso deve ser superado ao nos tornarmos adultos responsáveis pelas ações e por elas responder. Sem falar que em diversos momentos somos tentados a reagir a partir do consenso, do coletivo, achatando a disposição de discernir quando algo é bom para a ovelha ou para o rebanho. Precisei caminhar interiormente à larga até deixar de lado a imperiosa necessidade de aprovação. Evitando o arrogante “não estou nem aí”, mas certo de que o outro é incapaz de validar o que me encanta e me entristece. Em outras palavras, tudo é pessoal e intransferível. Você precisa renovar o interesse por indagações dessa ordem, filtrando-as a partir de sua capacidade de discernimento. Desde grandes decisões afetando o destino de milhares de pessoas até pequenos e prosaicos gestos cotidianos.
Vivendo em uma extensa família ou absolutamente sozinho, o fundamental é proceder com firmeza, blindando a alma. Como alguém pode se sentir agredido simplesmente porque ideias sobre sexualidade, religião e política colidem com as suas? A questão aqui é estritamente de foro íntimo. O resultado será a expansão da alegria como um rastilho de pólvora depois do fósforo aceso. Seguremos firme em nossas mãos esse tesouro recém descoberto, benção e dádiva espalhando-se pelo mundo através das mentes sadias que o buscam. Cante, dance, comemore. Rodopie. Fique parado, se lhe agradar. Só não deixe que soprem em seu ouvido como se conduzir.