O conflito de gerações é uma constante na história evolutiva da humanidade. Filhos geralmente “matam” os comportamentos ditados pelos pais e impõem sua atual visão de mundo. Porém, hoje isso se exacerba, merecendo uma análise aprofundada. Os millenials, como passaram a ser conhecidos os que se encontram na faixa entre 24 e 39 anos, começaram a impor uma série de mudanças destinadas a alterar a geografia dos relacionamentos. Revelam-se comumente egoístas, pensando unicamente em seu próprio bem-estar. Vivem numa espécie de bolha autossuficiente, emitindo opiniões ao sabor das circunstâncias e dos interesses pessoais. Praticam estratégias agressivas em suas atividades profissionais, arriscando a segurança no emprego em nome da coerência com seus princípios e ideias. Preferem a experiência ao acúmulo. Substituíram o sonho de possuir um automóvel pelo uso maciço do Uber e demais aplicativos de mobilidade. Não se importam de viver com os genitores muito tempo depois de finda a adolescência. São bastante livres, abdicando da prisão e da rigidez de códigos morais ditados por quem parece ter como preocupação maior a prevalência da autoridade.
Há diversos aspectos positivos e negativos a se considerar. Entre os primeiros, o envolvimento em ações políticas na preservação do meio ambiente e a autonomia na prática de seus desejos sexuais, sejam de qual ordem forem. Desfizeram-se de tantas amarras e querem experimentar a vida aqui e agora. São imediatistas, mas sabem usufruir como ninguém o que lhes é oferecido. Acharia pouco simpático de minha parte (por não me encaixar na classificação etária) ver essa ruptura como algo passível de severas críticas. Imaginar o saber e o conhecimento como monopólio dos mais velhos constitui-se em uma atitude de arrogância. Aliás, participar desse projeto apresentado é uma postura de inteligência. Uma boa possibilidade de escapar da pecha de obsoletos. Mas vale lembrar que, se por um lado essa turma vem impondo a demolição de conceitos arcaicos, por outro participa de um ideal flertando claramente com a arrogância. O eu – obeso, inflado – ocupa o centro de tudo. Porém, e isso é excelente, já não é possível impor-lhes normas verticalmente. Para eles, o mérito suplanta o que seus antecessores validavam pelos usos e costumes.
Que enriquecedor testemunhar essa modificação de paradigmas. Nem sempre é fácil, mas somos convidados a rever o que se cristaliza em nós e carece de uma injeção de ânimo. Está havendo, por assim dizer, uma troca de guarda: os novos donos do poder impõem uma visão privilegiando o engajamento e a responsabilidade. A natureza agradece. Depois de se libertarem de um sem número de preconceitos, vão em busca de uma utopia profundamente assentada na realidade. Parecem felizes.