Se alguém crê em algo, pense que é apenas algo em que se pode acreditar. Portanto, não imponha sua visão para ninguém. Viva segundo essa perspectiva, mas evitando a tentação de pressupor que o planeta seria melhor se pudesse acolher todos sob esse guarda-chuva. Caso contrário, correrá o risco de fundar um partido político ou uma religião. E não devemos ser tentados por isso, pois em ambos os casos não cabe a palavra relativo. Tudo se torna absoluto, inquestionável. E você, um fanático. Mantenha algumas crenças, porque seria quase como fugir do humano não agir segundo pressupostos e posturas que consideramos essenciais. Mas pare por aqui, absorvendo também perspectivas diferentes. O gosto ou as inclinações pertencem ao leque das possibilidades, não das certezas. Não levante o tom de voz quando falar com um amigo para expor seu ponto de vista. Desloque-se de forma imaginária de sua própria mente e perceberá que o resto irá junto. Até porque, somos escravos das circunstâncias e dos interesses pessoais.
Existe alguma maneira de fugir disso? Uma delas pode ser essa: conviva com quem se manifesta segundo princípios opostos aos seus. Fique tranquilo: não é contagioso. Pode-se manter total autonomia. O ganho será uma visão mais imparcial e correta do que nos cerca. Leia autores que expressem ideias até então desconhecidas ou que o forcem a ver o reverso do que costuma pressupor como o ideal, o correto. Quase todos nós passamos a existência professando a mesma doutrina, vendo fatos e conjunturas sob uma única perspectiva. Se o seu interesse for além do desejo de dominar o outro ou angariar poder, não tenha medo de se contradizer. Ninguém poderá acusá-lo de incoerência. Antes, deverá admirar sua coragem em ultrapassar o que é somente um conceito ou, na maioria das vezes, um preconceito. Livre-se da camisa de força das convicções estanques. Na juventude tendemos a ser mais libertários; a velhice costuma nos surpreender com perspectivas radicais, como se não houvesse mais tempo para revisar atitudes e discursos. Afaste-se desses extremos, eles não o ajudarão a polir sua alma, somente a ocupar um terreno como se fosse o único proprietário.
Defenda com serenidade o que lhe parece ser o mais exato, mas evite o risco de querer um mundo monocromático. Abrigue-se sob o arco-íris da pluralidade. Olhe, analise, compare. Você é um entre mais de sete bilhões. Não lhe parece estranho deter o monopólio do que é certo, justo e verdadeiro?