Dois aspectos são emblemáticos no seminário de terça-feira à noite (12/11), na Câmara de Vereadores, sobre a implantação de um campus da UFRGS em Caxias do Sul: a presença da reitoria Márcia Barbosa e o detalhamento de informações, em especial sobre a definição dos primeiros cursos e a aquisição do Campus 8, a evidenciar que as etapas estão avançando. Sinalizam o avanço das tratativas e tranquilizam um pouco a comunidade.
No que se refere à definição dos primeiros cursos, a reitora Márcia detalhou que uma comissão da UFRGS está produzindo levantamentos, trabalhando com dados, como o banco de inscritos no vestibular da universidade a partir da Serra e a expectativa dos inscritos.
– Obviamente, tem todo um lado estatístico, de dados, mas tem um outro lado que é uma escuta da comunidade – disse.
É tranquilizadora a menção à “escuta da comunidade”. Só precisa ter seu peso próprio garantido nas definições, e uma percepção de como isso será feito. Falas em seminários, como o de terça, por exemplo, são uma forma, mas aí tem boa dose de informalidade. As entidades reunidas em fórum específico são também canal importante. É preciso captar o anseio dos estudantes e da comunidade. Alguns critérios têm sido mencionados para a escolha dos primeiros cursos, como “cenários de futuro”, não haver concorrência com outras instituições de ensino superior, sondar o perfil da “empregabilidade” da região, falou-se até que pode haver cursos que “fujam do tradicional”. O critério central, no entanto, precisa ser que a universidade pública faça sentido, haver a percepção de democratização do acesso ao ensino superior, materializada no anseio de que os filhos de trabalhadores e trabalhadoras poderão cursar cursos até agora proibitivos, sem precisar viajar para estudar em universidades públicas em outras cidades. Esse é o anseio principal dos estudantes. A universidade vai começar com um campus pequeno, mas esse anseio precisa ser atendido, sem deixar margem a dúvidas.
O anseio de Ana Júlia
No seminário na Câmara, um depoimento chamou atenção, e sintetiza com fidelidade os anseios dos estudantes da região. Foi a manifestação de Ana Júlia Alves (foto), estudante secundarista da Escola Estadual Evaristo De Antoni:
– A gente dá esses passos (ter uma universidade federal) para as pessoas que vieram lá de baixo. Medicina é lugar pra quem veio lá de baixo e lutou até o fim. Tirar esse estereótipo de Medicina ser algo elitizado. Não é e não deveria ser.
Medicina é curso tradicional nas universidades. Não deve estar no catálogo dos primeiros cursos no Campus da UFRGS, pela complexidade da implantação. Mas a manifestação de Ana Júlia traduz esse anseio, deixa claro que cursos tradicionais estão no horizonte da expectativa dos estudantes.