A primeira manifestação da candidata a vice-prefeita de Caxias do Sul na chapa de Maurício Scalco (PL), Gladis Frizzo (PP), no domingo à noite, na Gaúcha Serra, respondendo a pergunta sobre se a aliança iria buscar os votos conquistados pela candidata Denise Pessôa (PT), é espantosa:
– Não, infelizmente não, porque nós somos direita, nós não podemos. Você não pode servir a dois senhores, é a um senhor só que serve.
Ela não quer os votos da esquerda. O deputado Mauricio Marcon (Podemos) e o próprio Scalco já haviam criticado o candidato Adiló por não colocar restrições a votos à esquerda.
Scalco desvia da questão
Denise Pessôa, do PT, fez 61.684 votos. Em sua entrevista nesta segunda, na Gaúcha Serra, o candidato Scalco foi confrontado duas vezes com a manifestação da candidata a vice, mas não enfrentou a questão. Também foi perguntado a ele se iria buscar os votos de Denise:
– Sobre apoios políticos, estamos trabalhando para trazer pessoas que acreditam no nosso projeto, no nosso trabalho e no plano de governo. Temos de fazer uma pergunta: você, eleitor, está feliz com a Caxias que tem hoje?
Scalco não vai conversar com Denise.
Ideologia só não pode fechar caminho
Em uma eleição municipal, o foco principal do debate recai sobre questões da cidade. Porém, o aspecto ideológico também marca presença. A ideologia, em geral, é vista com má vontade, como algo nocivo no ambiente político. Não deveria ser assim. Ideologia tem a ver com visão de mundo, e todo mundo tem a sua. “Ideologia, eu quero uma pra viver”, já enfatizava Cazuza. O que não pode é o aspecto ideológico inviabilizar a relação e a convivência política, o canal da conversação. Quem inviabiliza essa ponte, no caso em tela, e não quer votos à esquerda é a própria direita.
Os votos que restam. Não são poucos
Diante da evidência de que o candidato Scalco não vai conversar com Denise, conforme críticas anteriores a buscar votos à esquerda, uma orientação que se origina na frente anti-PT, resta à candidatura da direita garimpar votos do lado de Felipe Gremelmaier (MDB), candidatura que deve formalizar apoio a Adiló, dada a proximidade política e a parceria entre os dois partidos no governo do Estado. Afora isso, sobram votos nulos, em branco e de quem não foi votar. É bastante gente: mais de 112 mil votos, mas a abordagem para a conquista desses votos terá de ser cirúrgica, produtiva e em volume relevante.
A escolha do eleitor de esquerda
Outra variável da equação que pode atrapalhar planos da candidatura de Adiló Didomenico em buscar votos à esquerda no segundo turno é alguma resistência do eleitorado de Denise Pessôa (PT) em votar no tucano, que se assume como nome de direita e sempre teve restrições significativas em se aproximar do PT.
Porém, nesse caso, haverá uma escolha do eleitorado à esquerda com consequências políticas que podem acarretar fortalecimento de um setor ainda mais à direita.
É uma escolha a ser feita pelo eleitorado de Denise.