Começou a Festa da Uva em Caxias do Sul. O ex-prefeito e ex-governador José Ivo Sartori costuma dizer que as movimentações políticas na cidade acontecem somente após o evento. Apesar das ausências do presidente Lula e do vice Alckmin, diversas lideranças políticas ligadas à região ou ao desenvolvimento agrário estiveram presentes na solenidade de abertura, na tarde de ontem.
Foi momento de governos federal, estadual e municipal dialogarem juntos – em visita aos Pavilhões, os dois ministros representando o governo federal, Paulo Pimenta (da Comunicação Social) e Paulo Teixeira (do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), o governador Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito Adiló Didomenico (PSDB), acompanhados do secretário estadual do Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini, tiveram uma breve reunião (foto acima).
Teixeira apresentou ao governador um projeto do governo federal para alavancar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), para ampliar e facilitar a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários.
Poucos foram os anúncios feitos pelos ministros ou pelo governador. Esperava-se que poderiam, nas entrevistas coletivas ou então na própria abertura, anunciar projetos ou programas para aliviar aos produtores o peso dos efeitos climáticos, que prejudicam as plantações, ou novas linhas de crédito para alavancar o desenvolvimento. Não vieram.
O que se viu, ao menos politicamente, foi um grande destaque dos políticos ligados à esquerda, que estiveram na linha de frente durante toda a abertura, desde os ministros do governo federal, passando por secretários do governo, deputados estaduais e chegando aos vereadores.
Neste ano, os bastidores políticos já estão fervilhando – sem Sartori, e antes da Festa da Uva.
Adiló ficou “para trás”
Leite e Teixeira foram os mais prestigiados na visita ao Centro de Eventos, onde mais de 1,5 mil cachos de uva estão expostos, e estiveram presentes em boa parte dos estandes, como o espaço do Banrisul, o da UCS (que completou, ontem, 57 anos de história, saudado de forma empolgada pelo reitor Gelson Rech), além das metalúrgicas Marcopolo e Randon – donas dos maiores estandes.
Na caminhada pelo evento, o governador era parado com frequência para as famosas selfies, que não recusa a ninguém. Já Teixeira foi guiado pela feira pelos deputados petistas Pepe Vargas e Denise Pessôa, que lideraram toda a comitiva pela visita aos Pavilhões. Quando Leite foi embora, Adiló acabou ficando “para trás”, que passou a acompanhar a comitiva em segundo plano.
Princípio de vaias a Mourão
No início da solenidade de abertura, a rainha e as princesas anunciaram cada uma das autoridades presentes no palco, que ficou lotado de políticos e representantes da Festa da Uva. A cada nome, o público aplaudia protocolarmente, sem grandes celebrações, cenário que se repetiu ao longo de toda a solenidade. Mas, ao ser anunciado o nome do ex-vice-presidente da República e atual senador, Hamilton Mourão (Republicanos), um princípio de vaias pode ser ouvido na plateia – o governador Leite também recebeu o mesmo tipo de desaprovação, porém aparentemente mais contida.
"Que a política não atrapalhe em nada"
Ainda na abertura, o presidente da Festa da Uva, Fernando Bertotto, fez um discurso afastando a política do evento, após agradecer o empenho dos diretores, que trabalham de forma voluntária, assim como a dedicação das embaixatrizes da Festa da Uva.
– Finalizo a minha saudação com um pedido: que as novas gerações acreditem na Festa da Uva. Que a política não atrapalhe a Festa da Uva. E que tenhamos mais amor a uma festa tão gigante como ela. Festa é muito maior que qualquer coisa – disse Bertotto, que foi citado por Leite na sua manifestação, a última da solenidade.
– Que a política não atrapalhe a Festa da Uva, disse o presidente Bertotto. De fato. Mas eu agregaria algo a mais. Que a política não atrapalhe em nada. Que a política não atrapalhe as famílias, que a política não atrapalhe as amizades, o trabalho, as nossas relações. Que possamos fazer com que a política deixe de ser um atrapalho – desejou o governador.