A reprodução de boa parte da aliança de direita formada para disputar a prefeitura de Caxias do Sul esteve presente nos votos contrários à autorização de aporte de R$ 6 milhões para a Festa da Uva, votado e aprovado em sessão extra na Câmara na sexta-feira (26/1). Houve quatro votos contrários: Maurício Scalco (PL), Ricardo Zanchin (Novo), Alexandre Bortoluz (Progressistas) e Gladis Frizzo (ainda no MDB). Scalco é o nome dos partidos de direita para a prefeitura. O vereador Sandro Fantinel (PL), que integra a aliança de direita, votou por autorizar o aporte.
A aprovação, conforme o esperado, foi tranquila, e cumpriu o script tradicional para os pedidos de aporte do município para as festas – como já houve em 2021, de R$ 4,5 milhões, para a Festa da Uva 2022, e depois para a Festa das Colheitas 2023, no valor de R$ 1,4 milhão. Houve críticas “a mais um aporte” e à falta de planejamento, por ter sido a matéria submetida aos vereadores durante o recesso. Porém, o voto, ao final, era favorável diante do argumento da realização de uma festa comunitária. Mas os quatro vereadores ligados à aliança de direita foram contra, sob justificativa central de que o momento é de prioridades.
– Eu sei a importância que tem a Festa da Uva. Festa da Uva é sinônimo de Caxias. Porém, chegou o momento de prioridades. Infelizmente, a prioridade hoje é ajudar a população, e não a Festa – disse Scalco, resumindo o entendimento do grupo.
– Estamos confundindo a importância da Festa com planejamento da Festa – disse Zanchin, do Novo, partido tradicionalmente contrário a aportes de recursos públicos.
– Não se tem dinheiro pra fazer festa, não se faz festa. Primeiro se paga o que se deve, se compra a comida e a saúde – comparou Gladis.
Ocorre que a matemática não é tão simplificada assim. Festa da Uva é fortalecimento da comunidade, da cultura e apoio ao turismo, o que oferece retorno ao município. Esse foi o argumento dos 16 vereadores favoráveis à autorização do aporte – os vereadores Felipe Gremelmaier (MDB) e Adriano Bressan (PRD) estiveram ausentes da sessão. Ao chegar às vésperas da Festa, em regime de urgência, para ser examinado no recesso da Câmara, o projeto da prefeitura revela dificuldades de captação de recursos.
Só Marcon foi contra em 2021
Para a Festa da Uva 2022, o Executivo enviou dois projetos pedindo autorização para aportes: de R$ 4,5 milhões para a Comissão Comunitária (para realização da Festa) e de R$ 1,6 milhão para a empresa Festa da Uva. Daquela vez, houve apenas um voto contrário aos aportes, do então vereador Mauricio Marcon (então no Novo, hoje no Podemos).
Dos vereadores que agora votaram contra, Maurício Scalco (então no Novo, hoje no PL), Alexandre Bortoluz (Progressistas) e Gladis Frizzo (MDB) votaram a favor na oportunidade. Detalhe para a data em que foram votados os projetos de aportes para a Festa 2022: em 30 de novembro de 2021, quase dois meses antes do que ocorreu agora.
"Não vi uma placa", diz pedetista
A votação do projeto de autorização de aporte para a Festa da Uva pela Câmara colocou a organização e planejamento da Festa ao debate pelos parlamentares.
– Defendo que a Festada Uva tenha envolvimento comunitário, que está faltando e muito. Voltei ontem (quinta-feira) do Litoral. Eu vi (outdoor) desse mercado novo, com o Nico (na verdade Neto) Fagundes. Está em toda a cidade. Mas eu não vi uma placa da Festa da Uva. Nós precisaríamos estar agora contagiando todo o Estado, nas principais rodovias, nos acessos à cidade – apontou Rafael Bueno (PDT).
Esse é um problema que está presente em todas as edições da Festa, sem exceção. Sempre foi assim.
É uma lacuna inexplicável.