O coletivo de seis ex-secretários de Cultura de Caxias do Sul entrou forte na discussão sobre o futuro da Maesa. Juntos, Tadiane Tronca (secretária de 1997 a 2004), José Clemente Pozenato (2005 e 2006), Antonio Feldmann (2006 a 2012), João Tonus (2012 a 2014), Rúbia Frizzo (2014 a 2016) e Adriana Antunes (2017) comandaram a pasta por cerca de 22 anos, durante períodos de quatro governos de distintas posições políticas, de Pepe Vargas (PT), José Ivo Sartori (MDB), Alceu Barbosa Velho (PDT) e Daniel Guerra (sem partido). Agora, eles assinam conjuntamente uma carta, divulgada nesta terça-feira (9), em que se posicionam sobre o que pensam a respeito da gestão da Maesa.
"Entendemos a importância do momento em relação a este valioso patrimônio histórico-cultural, que pertence ao município, e sobre o qual a atual administração propôs, até a presente data, dar um uso e uma forma de gerir que, ao nosso ver, foge da essência do que foi construído e planejado coletivamente desde a época de sua doação para os caxienses", diz o texto no primeiro parágrafo.
Os secretários expressam o entendimento de que "a forma de ocupar e gerir a Maesa deve ser pública". Ao mesmo tempo, deixam bem claro que isso não significa descartar parcerias e participação privada na ocupação do complexo histórico. "Contudo, deve prevalecer o interesse coletivo sobre o privado, pois a 'supremacia do interesse público' é um dos principais princípios da atividade administrativa", prossegue o texto.
Ainda que o prazo de consulta popular já tenha se encerrado, os seis ex-secretários de Cultura querem mais debate, pois consideram fundamental que o projeto a ser implementado resulte de uma construção coletiva. "Tudo o que foi vivenciado nesta cidade ao longo das últimas décadas nos ensinou algumas coisas. Esperamos mais debate e escuta, e de forma ampla, com o propósito final de garantir o acesso e a apropriação da nossa Maesa pela maioria do conjunto da sociedade caxiense", encerram.
É um posicionamento de enorme representatividade e peso político, capaz de interferir nos rumos do debate sobre o futuro da Maesa.
Leia a carta na íntegra
"NOTA PARA IMPRENSA
Nós, ex-secretárias e ex-secretários de cultura de Caxias do Sul, abaixo-assinados, que durante duas décadas estivemos à frente da pasta que nos permitiu, em nossos respectivos períodos, conduzir as políticas públicas para a área da cultura, manifestamo-nos quanto ao destino da Maesa. Entendemos a importância do momento em relação a este valioso patrimônio histórico-cultural, que pertence ao Município, e sobre o qual a atual administração propôs, até a presente data, dar um uso e uma forma de gerir que, ao nosso ver, foge da essência do que foi construído e planejado coletivamente para o referido bem desde a época de sua doação para os caxienses.
Entendemos ser muito importante honrar a memória da Maesa e a luta que culminou nesta conquista fantástica para a cidade. As razões que fizeram possível a doação da Maesa giraram em torno do ideal de que o bem fosse transformado num espaço destinado predominantemente ao uso público, um rico lugar de convivência e que atenderia demandas culturais públicas e outras atividades, ou mesmo para diferentes órgãos municipais de gestão.
Por isso entendemos que a forma de ocupar e gerir este valioso patrimônio deva ser PÚBLICA. Isto não significa prescindir de parcerias; ao contrário, os espaços podem – e devem - ser ocupados de forma articulada, com a participação do setor privado em função dos necessários investimentos de requalificação e da sustentabilidade econômico-financeira. Contudo, deve prevalecer o interesse coletivo sobre o privado, pois a “supremacia do interesse público” é um dos principais princípios da atividade administrativa.
Portanto, consideramos fundamental que o projeto a ser implementado resulte de uma construção verdadeiramente coletiva, que respeite o uso original, de maneira a privilegiar a coletividade de forma ampla, pois no nosso entendimento os cofres públicos não podem bancar quase 65% dos investimentos e ocupar uma parte minoritária desta valiosa área e ainda não ter a gestão do bem como se entende do atual projeto.
Tudo o que foi vivenciado nesta cidade ao longo das últimas décadas nos ensinou algumas coisas. Esperamos mais debate e escuta, e de forma ampla, com o propósito final de garantir o acesso e a apropriação da nossa Maesa pela maioria do conjunto da sociedade caxiense."