O presidente Jair Bolsonaro está vivendo suas últimas horas como presidente no território nacional, antes de viajar com destino aos Estados Unidos. Não há confirmação do dia e do horário exato da viagem. Está por acontecer. Sendo assim, ele não passará a faixa ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo.
Passar a faixa é um ato democrático, que valoriza a unidade nacional frente às diferenças. É um ato que pensa no país, acima de tudo. Valoriza a democracia, a alternância de poder, a escolha soberana do povo. Coloca o país acima das diferenças entre quem passa o cargo e quem o recebe. Exatamente como diz parte do slogan que imortalizou os dias de Bolsonaro presidente: “Brasil acima de tudo”.
Enquanto isso, manifestantes seguem resistentes à frente de quartéis pelo país, à espera do que chamam de “reversão do resultado das urnas”. Foram incentivados a permanecer ali por declarações do próprio Bolsonaro, nas suas raras manifestações após o resultado das eleições. Em Caxias do Sul, menos de 72 horas antes da posse do futuro governo, os apoiadores do presidente permaneciam com suas cadeiras de praia e faixas na frente do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3º GAAAe). A foto acima é da quarta-feira. Em uma das faixas, está escrito: “Tá proibido desistir”. Em outra, a tradicional “autorização” às Forças Armadas: “O povo brasileiro autoriza as Forças Armadas a agir. Estamos juntos nessa luta”. Resta definir mais claramente "quem está autorizando", o que se entende por "povo brasileiro", e qual é sua síntese. Em tese, ela é definida pelo resultado de uma eleição, pela voz das urnas. No jogo democrático, quem está apta a autorizar alguma coisa, supostamente, é uma maioria.
Enquanto isso, seguem os preparativos para a posse em Brasília, com todas as cautelas de segurança depois da tentativa de explodir uma bomba na capital federal. O presidente Bolsonaro poderia se despedir com estatura democrática, orientando seus apoiadores a reconhecer a escolha das urnas e a se preparar para 2026. Colocando o Brasil acima de tudo, acima das diferenças. Não o fará. Não faz a escolha democrática, e será lembrado por isso.