O ex-governador Germano Rigotto (MDB) coordenou o relatório na área de Indústria e Comércio para a equipe de transição para o futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Exatamente a área que recebeu, nesta quinta-feira, a indicação do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Rigotto aprovou a escolha:
— O Alckmin no MDIC é uma ilha de sensatez — apontou.
Em seu relatório para a equipe de transição, Rigotto sugeriu a recriação da pasta e a colocação do BNDES (o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) sob o guarda-chuva do ministério. No caso do BNDES, com uma política voltada prioritariamente para a micro e pequena empresa.
O ex-governador gaúcho reiterou: afasta qualquer possibilidade de ocupar algum cargo no futuro governo. Ele entende que o MDB pode apoiar bons projetos sem a troca por cargos, mas percebe uma inclinação e uma movimentação a indicar que o partido vá participar do governo.
Rigotto conversou com a coluna nesta quinta-feira à tarde, confira:
O que achou da indicação de Geraldo Alckmin para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio?
Rigotto: Uma excelente escolha. O Alckmin, com certeza, terá a força que outros ministros de Indústria e Comércio não tiveram em governos anteriores. Ele é vice-presidente, foi governador, não é um ministro comum, como outros que tinham bons projetos, mas não tinham força. Acredito que os encaminhamentos que dei no meu relatório poderão ser implantados com um ministro "forte" e que conhece bem a necessidade de uma política industrial para o país. Como sugeri, o BNDES e a Apex ficam no guarda chuva do Ministério de Indústria e Comércio. Ele tem condições de implantar aquilo que sugerimos (no relatório da área de Indústria e Comércio, dentro da equipe de transição). Entre algumas escolhas (de ministros) duvidosas, o Alckmin no MDIC é uma ilha de sensatez.
O senhor vê espaço para Simone Tebet no ministério?
Rigotto: Não sei. Se fosse a Tebet, ficaria de fora do ministério. Ela tem um nome nacional, poderia construir um caminho de centro, mas é uma decisão dela. (A indicação de Tebet para o ministério) fica no chove-não-molha. Ela poderia trabalhar pela sua proposta de pacificação do país sem estar no ministério e construir uma candidatura de centro em 2026. Não precisa de ministério. O MDB poderia oferecer a ela uma estrutura para andar pelo país.
Como o senhor está vendo as indicações para a área econômica dentro do ministério?
Rigotto: O PT deveria compreender e ser um governo menos do PT e mais de abrangência nacional. A gente entende as posições assumidas pelo Lula, de que tem de governar para a área social, para enfrentar a miséria. Mas ele precisa ser o presidente de todos os brasileiros. Às vezes, o discurso não vai nessa direção. O PT parece que está querendo assumir todas as posições-chave. Na área econômica, a formação do governo está indo muito na direção de quadros do próprio PT, quando poderia ser muito mais abrangente e fugir de ser um governo ideológico. Diferente de 2003 (primeiro Governo Lula), o limite para erro é muito pequeno. A conjuntura é totalmente diferente da de 2003. A situação fiscal é muito complicada. Tem de governar não apenas no discurso, mas na formação do governo procurando bons quadros, que não tenha só o carimbo de um governo vinculado ao PT. Na área econômica, todos os postos-chave são quadros do PT. E isso está se repetindo em outras áreas. Tomara o Alckmin possa fazer diferença e tenha influência na área econômica.