O debate de domingo à noite entre os candidatos a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) ampliou e reforçou um estilo formal que tende a se repetir e consolidar e, de maneira até um pouco surpreendente, foi um debate um pouco mais cordial entre os dois candidatos, a cordialidade minimamente possível. Avançou-se um pouco. Não se viu a agressividade do debate final do primeiro turno que gerou uma sucessão de pedidos de resposta, em prejuízo do próprio debate, dos demais postulantes e, em última análise do eleitor e da eleitora. Desta vez, não chegou a se registrar um enfrentamento beirando o grotesco.
Desta vez, houve uma convivência entre os dois candidatos dentro de parâmetros razoáveis para um debate eleitoral, onde os diferentes esgrimem suas diferenças, ainda mais que era um debate em segundo turno, onde, mais do que diferenças, há antagonismos e visões de mundo discrepantes, e são compreensíveis algumas exaltações. Ainda assim, ouviram-se a todo momento as palavras "mentira" e "mentiroso". Elas em nada acrescentam, reafirmam crenças e tocam o ouvido apenas dos apoiadores amigos e convertidos e afugentam eleitores que precisam ser conquistados para a política, convencidos a se aproximar do universo e do ambiente da política. É tiro no pé, portanto.
Além do mais, são palavras dispensáveis, pois o raciocínio exposto, a crítica exposta, sobrevivem sem o emprego de tais palavras, ou outros recursos similares. Sem o emprego delas, o argumento se fortalece, pois adquire mais visibilidade. Eventual discordância no calor do debate ou o desapego aos fatos devem falar por seus argumentos e pelos fatos em si. Recorrer às bangalas das palavras "mentira" e "mentiroso" alimenta o conflito, tensiona o ambiente, eleva a temperatura sem necessidade, tira o foco das propostas e da racionalidade necessária e, com quase toda certeza, tira votos. Seria importante que os candidatos e suas assessorias fizessem essa reflexão para que ainda algum dia tenhamos debates mais serenos, civilizados e qualificados, pensando mais nos eleitores em geral e menos em jogar para os apoiadores.
Um bom caminho
O debate de domingo explicitou uma evolução da forma na movimentação livre dos candidatos e no tempo de 15 minutos para cada um, em um debate livre e franco, tornando o encontro entre os postulantes ao cargo em disputa mais atrativo, menos truncado, capaz de oferecer tempo para exposição mais detalhada dos argumentos, números e informações, facilitando um pensamento mais organizado e abrangente.
É um bom caminho para os debates eleitorais.