Debate tem de ter tempero. O principal, a massa, devem ser as propostas, o conteúdo. Mas retirar molho, o tempero político, as alfinetadas, pode tornar um debate eleitoral pesado e maçante. A coluna não reclama de algum grau de enfrentamento, claro que civilizado. Porém, o debate desta sexta-feira entre os candidatos ao governo do Estado Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) teve tempero demais, em prejuízo do conteúdo. Começou pela tensão surgida em torno da declaração de Onyx no primeiro dia do horário eleitoral, sobe o Estado ter “uma primeira-dama de verdade”, tema da primeira pergunta do debate. E teve canelada do início ao fim. No afã de carimbar o oponente com características negativas os dois candidatos abusaram dos rótulos, aos quais recorreram repetidamente. A seguir, alguns desses rótulos:
* “Candidato que renunciou aos gaúchos.” (Onyx, sobre Leite)
* “Candidato que está há muito tempo em Brasília.” (Leite, sobre Onyx)
* “Candidato que quebrou a sua palavra (de não disputar a reeleição).” Onyx, sobre Leite.
* “Candidato fake news.” (Leite, sobre Onyx)
* “Meu adversário lembra aquele personagem, Rolando Lero.” (Leite, sobre Onyx)
* “Esse é o candidato que não ataca pessoas.” (Onyx, sobre Leite, ironizando)
Resultado: o nível da tensão subiu a ponto de Onyx, ao final, não apertar a mão que Leite lhe estendia. É preciso manter a cordialidade. A dose de tempero foi exagerada. Mesmo assim, houve debate sobre propostas e confrontações sobre posições e comportamentos dos candidatos. Onyx assumiu compromissos como não aumentar a contribuição para o IPE Saúde e suspender a privatização da Corsan e Leite mencionou iniciativas de seu governo, que pretende aprofundar.
Porém, apesar de o formato do debate oferecer tempo, ele foi utilizado preferencialmente para as alfinetadas. Houve perguntas simplesmente abandonadas, como as feitas sobre os temas da segurança e da agropecuária. Ao final, Onyx fez citações bíblicas dos evangelhos de Marcos e Mateus. Logo depois, colocou a mão no ombro de Leite, sem apertar-lhe a mão.