Na quinta-feira (20/10), a coluna projetou: “Sempre piora na reta final”, uma referência ao agravamento habitual dos enfrentamentos das campanhas eleitorais na última semana, em especial na campanha eleitoral deste ano, quando o nível de enfrentamento é muito maior do que nas anteriores. E está piorando. A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, e a ex-senadora Marina Silva (Rede) foram alvos de ataques misóginos (manifestação de ódio, desprezo ou aversão a mulheres) de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Em vídeo postado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) em rede social de sua filha, Cristiane Brasil, com linguagem deplorável e rasa, Cármen Lúcia foi comparada a uma “prostituta” por ter votado pela punição da Rádio Jovem Pan. A emissora foi condenada por reiteradas declarações consideradas pelo TSE distorcidas e ofensivas ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com determinação de se abster de manifestações que possam ser consideradas ofensivas ao petista. Jefferson, que até então estava em prisão domiciliar e é investigado por atuação em milícia digital contra a democracia, usou também os termos “Bruxa de Blair” e “Carmen Lúcifer” para se referir à ministra.
A situação gerou ordem do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, contra Jefferson, determinando o retorno à prisão em regime fechado. Na ação de cumprimento da ordem judicial, Jefferson atirou contra agentes da Polícia Federal (PF). Comunicado da PF confirma que o ex-deputado usou uma granada no ataque. Dois policiais ficaram feridos sem gravidade. Bolsonaro repudiou a fala de Jefferson contra Cármen Lúcia e a reação armada do ex-deputado, “bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo à Constituição e sem a atuação do MP”. Atenuou em referência às medidas determinadas pelo TSE para conter fake news.
No caso de Marina, a deputada federal eleita pela Rede afirmou, em rede social, que uma pessoa identificada como apoiadora de Bolsonaro a xingou de “vagabunda” ao sair de um restaurante em Minas Gerais, durante encontro de Lula com a imprensa mineira.
Marina registrou boletim de ocorrência.
Declarações abjetas
Com apoiadores assim, o candidato Jair Bolsonaro não precisa de inimigos no front. Mas esse é um enfoque estritamente eleitoral. O episódio, por si, é lamentável e as aberrações ditas por Jefferson são desprezíveis, abjetas e obviamente ofensivas.
A reação deu-se em torno de uma decisão do TSE que aponta para a censura prévia contra a Jovem Pan, o que é prejudicial à democracia. No caso específico, há controvérsias entre juristas. Independentemente dessa discussão, os ataques de Jefferson devem ser repelidos.