“Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades.” Cortante e profético Cazuza, como sempre foi, cantava O Tempo não Para lá no final dos estrondosos Anos 80. Mostrava visão de longo alcance e capacidade de projeção das possibilidades humanas, exercitadas com o olhar agudo para a realidade, as atitudes e os comportamentos. E o futuro não tem se cansado de repetir o passado. Agora essa invasão da Rússia à Ucrânia, capaz de colocar na pauta e no jogo das possibilidades uma nova guerra planetária. O futuro, 30 anos depois de Cazuza, repete o passado dos Anos 40 do século anterior. É só mais uma repetição. Há tantas.
É de uma ingenuidade alarmante confiar em novos tempos a partir do advento de novas gerações, essas sim que seriam capazes de cuidar do planeta, e etecétera, é o que se diz. Avanços há, por certo, aqui e ali, solidariedade, novas compreensões, voz para minorias, mais representação e pluralidade. Mas há recuos alarmantes também, até épocas mais primitivas. São os embates, mas a resultante mostra que esse jogo vem sendo perdido. O que precisa mudar, e não muda, é o conteúdo, o propósito, a intenção, a disposição para o respeito ao outro, acima de tudo. Enquanto essa mudança essencial não se disseminar, não for hegemônica, nada feito: o futuro repetirá o passado, haverá um museu de grandes novidades. As redes sociais, por exemplo, agora olhando para o que veio depois de Cazuza: são um museu da grandes novidades. Melhor síntese não poderia haver no verso pontiagudo. Porque faltam nas redes sociais, e em muita tecnologia, o respeito, a capacidade de conviver com as diferenças. Porque sobra agressividade.
O futuro repete o passado na volta da guerra, dos sintomas da chamada Guerra Fria. Até o comunismo que come criancinha foi resgatado como ameaça, como era nos Anos 60 e 70, bem como as sombras à democracia. O passado morava no futuro, como se vê agora. A fome, que já foi mais aguda no passado, está de volta, os maltratos ao meio ambiente se agravam, apesar da esperança nas novas gerações, apesar de Greta Thunberg. E o congolês Moïse é espancado até a morte no Rio. Tempos terríveis.
O futuro não se cansa de repetir o passado, e continuará a repeti-lo. Até quando? E as grandes novidades acumulam a poeira dos anos. Como cantava Cazuza há 34 anos.