O presidente Jair Bolsonaro esticou a corda o que deu. A coluna vinha fazendo essa referência. A cada discurso, dava um passo além e esticava mais a corda. Até que teve de recuar, por orientação do presidente Michel Temer — mentor da indicação do ministro Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal (STF). Temer reaparece assim na cena política nacional. O presidente emitiu nota oficial ontem em que recua. Ele próprio usa a expressão “esticar a corda” e diz que nunca teve “intenção de agredir quaisquer poderes”. E atribuiu ao “calor do momento” suas palavras, “por vezes contundentes”, de enfrentamento ao Supremo.
Chegou a um beco sem saída, em que corria riscos se continuasse com o enfrentamento. Pode desarmar, assim, uma eventual abertura de processo de impeachment, que já era improvável, e devolve alguma serenidade possível ao ambiente político e também econômico. O dólar caiu e a bolsa subiu após o recuo do presidente. Mas, por outro lado, ele frustra seus apoiadores, que esperavam o tudo ou nada.
O movimento dos caminhoneiros cresceu nesta quinta-feira, mas desorientado, por não haver uma liderança visível. As manifestações alternaram momentos de bloqueio em rodovias com uma postura mais simpática, de não bloquear as vias. Até esta quinta, as bandeiras do movimento não estavam suficientemente sinalizadas. Mas então os apoiadores deixaram claro que fincariam os dois pés nas pautas políticas, como a do voto impresso e auditável (na foto, na RSC-453, em Fazenda Souza) e, principalmente, a da saída de ministros, os dois citados pelo presidente – Alexandre e Luís Roberto Barroso. Deste ponto, a bandeira anti-STF, com a consequência prática da saída dos ministros, eles não arredavam pé.
A meia-volta de Bolsonaro foi uma ducha de água fria nos apoiadores. Mas o presidente chegou ao beco sem saída por iniciativa própria.