O grafiteiro Fábio Panone Lopes está dando os arremates finais em um imenso mural em paredes até então desaproveitadas na Garibaldi, entre Sinimbu e Dezoito. Ele imprime cores pulsantes ao cenário urbano, onde antes havia apenas paredões, e essa é outra questão interessante e essencial. Uma cidade precisa pulsar em todos os seus espaços públicos, oferecer sentido de comunidade e convivência, atrair para essa convivência, oferecer atrativos para que seus moradores saiam às ruas.
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É isso o que, a seu jeito, faz o mural de Panone, em dias em que as pessoas são estimuladas a se recolher a seus apartamentos. A insegurança segue presente, o centro da cidade, nosso projeto de cidade, nossa visão estratégica de cidade, não leva as pessoas para a rua, pelo contrário, as afasta, evita recantos, espaços aprazíveis, contemplativos e de promoção de encontros. Está aí a Praça da Bandeira que não nos deixa mentir. Sempre que posso menciono a Praça da Bandeira. Ela é certamente o espaço público de Caxias do Sul tratado com maior indiferença pelas sucessivas administrações e também pela população. Está largada há décadas, e não há quem se interesse por ela. Pobre Praça da Bandeira, um espaço que se oferece à cidade, mas a cidade não quer.
Mas oferece mais o mural de Panone. Tem tucanos, araras, coalas, serpentes, uma onça pintada. Quer chamar a atenção para a proteção da natureza. No discurso, quem não quer a defesa da natureza? Na prática, muda de figura, especialmente em Caxias do Sul, onde a má vontade com as árvores é praticamente uma cultura. Estão aí por toda a cidade podas que mutilam nossas árvores nas ruas. Árvores que, aliás, nestes verões de calor inclemente, oferecem sombra que é dádiva dos céus, além de cumprirem a função ecológica de promover qualidade do ar e ninhos para tantas aves. Ainda nesta semana, segunda e terça-feira, duas araucárias foram derrubadas na praça de Galópolis. Inacreditável. Então o mural de Panone cumpre também este objetivo, de convencer para a defesa da natureza. Como faz Greta Thunberg, a adolescente sueca que incomoda o que pode – e faz muito bem – para combater as mudanças climáticas, tocando na ferida de que a causa central está em nosso modo de vida e de produção. Greta deveria ser tema obrigatório em nossas escolas, mas não é.
Cada um a sua maneira, Panone, Greta e quem mais puder devem chamar atenção e convocar para melhorar a realidade ao nosso redor, para valorizar espaços e mananciais que são de todos. Vale um mural, vale uma postura, vale um gesto, sem concessões às agressões e ao desrespeito.