O episódio das três acadêmicas de Biomedicina de uma faculdade de Bauru, São Paulo – que postaram um vídeo debochando de uma colega de 40 anos de idade – é tão, mas tão revelador do despreparo, da arrogância e da burrice de parte dos jovens hoje em dia. Uma única frase dita por uma das três garotas é bastante comprobatória da incapacidade dessa geração em entender o mundo real: “Ela [no caso a colega mais velha] não sabe o que é o Google”. Alguém precisa avisar esse pessoal com menos de 30 anos de idade que nem tudo está no Google.
Dificilmente as questões verdadeiramente importantes nas relações humanas podem ser respondidas numa busca rápida num aplicativo ou agora numa consulta ao atual oráculo tecnológico chamado ChatGPT. O problema é que numa falha conjunta de pais, escola e sociedade levaram esses jovens desde a infância a acreditarem que, diante de uma dúvida ou de um questionamento, basta recorrer a um teclado de computador ou celular para em questão de segundos obter a resposta. Aqui temos só um exemplo dos males causados pelo imediatismo de uma geração e, principalmente, da ilusão de que só informação basta.
Imagino que o vídeo gravado por essas moças tenha sido motivado pela falta de paciência e de empatia com a colega mais velha, representante de uma geração nascida nos anos 1970 e 1980 que aprendia de um jeito diferente e que ainda respeitava a figura e a autoridade do professor. Quarentões como eu entendem a importância do questionamento dentro de sala de aula. Consigo até mesmo visualizar a estudante de 40 anos fazendo uma pergunta que até poderia ser respondida pelo Google, o que trouxe exasperação às três universitárias acostumadas a ir para a sala de aula de corpo presente e alma ausente. As jovenzinhas não entendem que o questionamento de um colega – seja ela quem for – pode ser também a dúvida de outro, que a interação surgida a partir dali é uma oportunidade para aprender mais e melhor, que os caminhos apontados pelo professor para encontrar a resposta talvez sejam eles próprios novas ramificações de saberes. Isso os milissegundos da resposta prontinha e asséptica oferecida pelo Google jamais poderão proporcionar.
Num Brasil tão dividido, a atitude execrável daquelas três garotas de Bauru que vomitaram etarismo naquele vídeo despertou a indignação de todos. Tão senhoras de si, tão debochadas e donas da razão no vídeo que vazou para a opinião pública, quem são essas jovens hoje depois que o caso veio à tona? Apenas três pessoas canceladas na vida real que no fundo é a única vida que verdadeiramente importa. Somos profissionais no mundo real, somos filhos, amigos, vizinhos no mundo real, somos éticos, humanos e vulneráveis no mundo real. Acho que agora aprenderam. Afinal, a experiência é a melhor professora. Se soubessem disso, teriam escutado a colega mais velha em vez de ter tentado ridicularizá-la.