A arquiteta Maria Inês Menegotto de Campos é a primeira presidente mulher da história do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon). Mas ela não está sozinha, colocou na liderança outras mulheres como vice-presidentes.
Se não bastasse a formação 100% feminina ser pioneira entre as entidades do setor da construção civil no país, agora este grupo também fará o 1º Seminário Jurídico e Imobiliário de Caxias do Sul no dia 5 de maio no auditório da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC). A seguir, confira um pouco mais da história de Maria Inês, diretoria da Edif Engenharia e Arquitetura:
Como foi a decisão de cursar Arquitetura?
Acho que estava no sangue, sempre gostei de desenhar. Minha mãe é artista plástica, meu pai tinha fábrica de móveis, lidando sempre com desenhos de móveis, e foi acompanhando meu irmão em aulas de desenho técnico que percebi que era isso que queria. Mas não foi minha primeira decisão. Eu era muito nova e resolvi pelo curso de hotelaria. Mas percebi que o meu negócio era o desenho. Ingressei, em 1995, no curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Santa Úrsula, no RJ. Me formei com distinção, tendo concluído o curso de Arquitetura apresentando o projeto de um resort, bastante grande para a época.
Como é ser mulher no comando de uma empresa no ramo da construção civil?
Iniciei meu trabalho junto às obras muito cedo. Fui criadora da assessoria de obras da UCS, sendo responsável técnica por todas execuções – aproximadamente 250 mil m² de obras. Iniciei os trabalhos tendo 6,8 mil alunos, montamos uma equipe de arquitetos e desenhistas, e saí da instituição com 38 mil alunos. Em paralelo, nunca abri mão de ter o meu escritório de arquitetura, que dividia com outros engenheiros. A oportunidade de abrir a construtora Edif Engenharia e Arquitetura surgiu com a demanda da Caixa Econômica Federal para o programa Minha Casa Minha Vida, nos idos de 2009. Organização e método foi o que nos pautou e obtivemos selos de qualidade necessários para nos cadastrarmos junto à Caixa e “viramos” construtores, a princípio, neste programa.
Qual foi o projeto mais audacioso que idealizou na sua vida pessoal e profissional?
Fazer faculdade de Arquitetura, trabalhando, casando, tendo filhas ao mesmo tempo e morando longe de casa. Acho que depois disso, qualquer coisa é fácil. Profissionalmente, um dos projetos mais diferenciados que trabalhei foi um centro integrado de cultura, idealizado enquanto eu ainda trabalhava “solo” na universidade. Um projeto com programa de necessidades absurdamente grande, onde contava com sala de espetáculo de aproximadamente 2 mil pessoas, salas de exposições diferenciadas, salas de conferências, salas de apoio, ateliês de trabalho, enfim, todos os serviços para um centro de cultura que veio a ser chamado de FIC (Fundação Integrada de Cultura). Projeto não edificado, mas que temos uma pedra fundamental enterrada até hoje na UCS e que contou com apoio de muitas pessoas da nossa cultura, indústria, comércio e sociedade.
Há quanto tempo atua na representação do setor pelo Sinduscon e quais projetos ajudou a desenvolver?
Estou há 12 anos no Sinduscon. Fui diretora do meio ambiente, vice-presidente interina e vice-presidente administrativa. Um dos projetos que trabalhamos foi a implantação de um programa de software, a exemplo do SMUWeb da prefeitura de Caxias, e que hoje, depois de duas gestões, conseguimos viabilizar o Semma Web, da Secretaria do Meio Ambiente, por meio do nosso diretor atual de estatística, o engenheiro Tiago Donadello. Viemos tentando amadurecer junto ao município a montagem de uma central de reciclagem de resíduos da construção civil, projeto ainda muito insípido. Permeando por todas as gestões, trouxemos para o seminário anual “Construindo” Silvio Barros, ex-prefeito de Maringá, mentor e gestor do projeto Futuro da Minha Cidade. Participamos, junto à Caixa, de todos os Feirões da Casa Própria. Temos ainda o concurso anual, pausado durante a pandemia, Jovem Talento da Construção civil; campanhas de segurança nos canteiros de obras; comprometimento com ações de segurança sanitária no período da pandemia, para que não parasse por completo as obras; dentre outros.
Pela primeira vez, desde a fundação em 1974, o Sinduscon Caxias tem uma mulher na presidência. Mais do que isso, como compôs uma chapa exclusivamente de mulheres?
Assim como foi a construção para mim, que veio do amadurecimento da carreira, acredito que o cargo veio da participação que tive junto a várias diretorias e presidência do Sinduscon. Com as “meninas” foi muito parecido, com todas atuando fortemente no mercado caxiense, cada uma dentro da sua área, mas nas suas construtoras. Somos um time de mulheres composto por mim, da Edif Engenharia e Arquitetura, pela vice-presidente contadora, a Vanessa Camargo, da empresa Exacta Engenharia, ainda a vice-presidente financeira, advogada Gerenise Viezzer, da Viezzer Engenharia, e a vice-presidente administrativa, a administradora Sandra Sgandella, da Perola Construções e Incorporações.
Como surgiu a ideia do 1º Seminário Jurídico e Imobiliário de Caxias do Sul?
Desde o início de nossa gestão nos comprometemos a incentivar o diálogo e construir pontes. Percebemos que precisamos aproximar os elos da cadeia produtiva para que possam conversar abertamente sobre temas que impactam nosso setor, como os vícios construtivos. Entendemos que é nossa obrigação, enquanto representantes da indústria da construção civil, dar conhecimento a todos os envolvidos do que há de mais atual em termos de legislação e das normas que regulamentam a matéria, principalmente a norma de garantias publicada em dezembro de 2022 que entra em vigor em junho próximo, a NBR17170.
Quais os principais temas que impactam o setor e como está o mercado da construção civil, atualmente, na região?
A construção civil pode ser uma estratégia na sustentação do desenvolvimento econômico de um município, devido aos seus elevados encadeamentos produtivos com outros setores. É sabido que além dos insumos básicos, 30% do valor aplicado num empreendimento residencial, por exemplo, retorna para o mercado em forma de móveis, linha branca, acessórios, têxteis, iluminação, entre outros. Em Caxias do Sul, no ano de 2015, tivemos um decréscimo bastante grande nas aprovações e licenciamentos de construções, mas de 2015 até hoje, o mercado vem se mantendo num patamar baixo. Hoje, existem muitas ofertas de médio e alto padrão, pois foi o setor que conseguiu absorver variações fortes que tivemos nos insumos da construção devido à pandemia, o que demonstra que o mercado está se movimentando, pois quando uma família muda para um apartamento maior, entra no mercado um imóvel de menor valor, com maior liquidez, empurrando o mercado para frente. Por outro lado, como tantas outras cidades industriais, temos um “cinturão” de sub-habitações, onde a maioria paga aluguel correspondente à prestação da casa própria. O que falta a estas pessoas é o poder de compra momentâneo, da entrada do imóvel. Na nova emenda constitucional do plano do Minha Casa Minha Vida vamos ter o regramento para estas novas contratações, subsídios, mas o mais importante é que os municípios tenham ciência de que, se não subsidiarem estas famílias, não colaborarem com terrenos e infraestrutura, o plano não vai para a frente e a cidade continuará na informalidade.