De Montalcino na Toscana, a terra do famoso Brunello, vem o único Master of Wine italiano, Gabriele Gorelli. O título é o mais alto grau que um especialista em vinhos pode atingir e é concedido pelo Institute of Masters of Wine do Reino Unido, país com maior tradição em conhecimento de produção alheia da bebida.
Na última semana, Gorelli esteve pela primeira vez no Brasil. Ele ministrou uma série de masterclasses para profissionais que já atuam na área durante a Wine South America, feira internacional de vinhos que ocorreu em Bento Gonçalves. Natural de uma região com muitas planícies, ele conta que ficou impressionado, primeiramente, com a geografia da Serra Gaúcha.
A seguir, confira um pouco mais sobre a história de Gorelli e sua visão sobre a importância de conhecer a diversidade da produção mundial:
O que o levou a estudar os vinhos do mundo todo?
Eu comecei porque o meu avô tinha um pequeno vinhedo e eu cresci por ali, assim como toda a família. Primeiro fiz o curso de sommelier, depois uma formação na área de comunicação. Também já tinha estudado línguas e aí comecei a estudar para me tornar um Master of Wine.
Como é para um italiano aprender sobre vinhos com ingleses?
Precisa mudar nossa atitude e reconhecer que os ingleses, por uma centena de anos, não produziram vinho suficiente para abastecimento próprio e andaram por todo o mundo para procurar vinhos. Por isso, eles conhecem tanto. Não são como nós, italianos, que só conhecemos o nosso vinho nacional, regional ou provincial. É preciso acreditar na formação deles internacional.
Qual a importância de conhecer essa diversidade para aprimorar o produto?
É fundamental entender o contexto em que se quer posicionar. Estudar em um local que não tem produção suficiente para satisfazer o seu próprio mercado permite entender melhor as oportunidades lá fora.
Antes de conhecer os vinhos na feira aqui no Brasil, o que já tinha provado?
Os primeiros vinhos que provei do Brasil foram espumantes em uma ProWein (feira promovida na Alemanha) há quase 10 anos. Depois, em um Wine Star Awards, degustei vinhos mas não sabia de que produtores, porque era um concurso às cegas. Agora não tive muito tempo no Brasil, mas será um prazer retornar.
Qual a principal curiosidade sobre os vinhos brasileiros?
Entender quanto a cultura italiana, sobretudo a Vêneta nesta região de Bento Gonçalves, impacta na produção.
Ao contrário dos italianos que não “se abrem” tanto para os vinhos do mundo, no Brasil, por vezes, se olha mais para o que vem de fora do que algo que está ao lado. Como buscar um equilíbrio?
Leva muito tempo para mudar uma cultura, mas acredito que o caminho é entender que o consumo de vinho mundial, primeiro, é governado por bases territoriais. Primeiro se bebe o próprio vinho e depois se interioriza a diversidade.