Mateus Batistelo, 42 anos, é um dos quatro irmãos que administram a Vinícola Dom Bernardo, no Vale dos Vinhedos, em Garibaldi. O negócio familiar atualmente produz cerca de 20 mil litros de vinhos por ano. Enquanto Marcelo cuida das videiras, Mauricio cuida da vinificação e Graziela do comercial, Mateus fica na linha de frente promovendo a pequena vinícola que tem 80% de sua comercialização feita de forma direta. Esse é um caminho que vem sendo buscado pelos empreendimentos do ramo de menor porte para buscar uma valorização maior dos produtos.
— A gente preza muito pelo atendimento, porque assim como gostamos de ser bem recebidos, os nossos clientes também. Eles gostam que o dono converse, que beba junto (risos). E assim a gente nunca vende vinhos uma vez só. Depois de comprar aqui no varejo, acabamos mandando vinhos para o país inteiro — conta Mateus.
A pequena vinícola até tem e-commerce, mas o dono conta que, quando vende uma caixa por mês, é muito. Não passam de três as lojas físicas que revendem a marca no país, mas seus vinhos chegam ao país inteiro por meio do contato direto com os consumidores. O que não é comercializado assim vai para restaurantes da região. A aposta na experiência presencial é tanta que Mateus lembra com orgulho algumas façanhas já empreendidas:
— A venda mais difícil que fiz foi para um casal do Rio de Janeiro que só gostava de vinho suave. Fiquei duas horas e meia com eles, ofereci cinco tintos. Eles provaram todos e acabaram levando duas garrafas, mas não foi fácil. Recentemente, ela ligou e disse que não tomam mais vinho suave e compram nossos vinhos cada vez mais.
A quarta geração, que descende de Bernardo, o imigrante italiano que inspira o nome da vinícola, começou em 2007 com o projeto de renovação dos vinhedos com o plantio de uvas finas em espaldeira. Hoje os seis hectares da família já têm 10 castas plantadas.
— Na época que começamos, pensamos que, em vez de fazer um ou dois vinhos e 10 mil garrafas, era melhor ter maior variedade e lidar com todas elas com o mesmo cuidado e o mesmo carinho desde o plantio à vinificação – aponta.
Além de só trabalhar com vinhedos próprios, outra marca da Dom Bernardo é só ter vinhos tintos. E chamam a atenção algumas variedades que não são tão comuns de serem encontradas na região, caso de Shiraz e Tempranillo.
— No começo, quando a gente plantou, tinham até uns que diziam: se faz vinho com isso? E a gente respondia: calma, primeiro vamos aprender a lidar com o vinhedo e depois vamos fazer vinho, sim!
A vinícola demorou de 2007 a 2013 para fazer a vinificação, pois primeiro queria dominar os vinhedos. No caso das castas acima citadas, que costumam ser produzidas em regiões mais secas, a família tem maior dificuldade no manejo na Serra em anos de muita umidade, mas Mateus conta que, passados quase uma década das primeiras garrafas lançadas, hoje já tem maior domínio para explorar as suas potencialidades. Aliás, potência é o que caracteriza o vinho ícone da Dom Bernardo, o Marselan. É o que mais a vinícola produz. Ainda assim, são 3,8 mil garrafas, o que é bem menos do que um só tanque de grandes proporções de vinícolas que produzem em larga escala.
— O nosso Marselan da safra de 2020 a gente deixou maturar mais, ele quase passificou. Tanto que foram dois quilos e meio de uva para fazer um litro. Nós arriscamos em deixar mais tempo no vinhedo por estarmos com todos os fermentadores cheios e porque não tinha previsão de chuva mesmo que não tivesse chovido há dois meses. Ele ficou um mês fermentando nas cascas e chegou a 16,2% de álcool – descreve o dono.
Outro destaque da vinícola nos últimos anos tem sido o Cabernet Franc. Os da safra 2020 “sumiram” em três meses. O novo lote de 2021 está para ser lançado. Para os próximos anos, a vinícola também pretende ter Petit Verdot, Pinot Noir, Rebo e já tem Tannat em barricas.
Outra novidade é a ampliação da vinícola, que vai dobrar de tamanho e ganhar uma sala nova de barricas e uma adega para que, na próxima vindima, os turistas já possam fazer a visitação com degustação na área fabril.
— Esse ano investimos em 47 novas barricas. Para quem produzia só 27 mil litros por ano é um investimento grande — comenta Mateus.
No varejo, a família finaliza a construção de um um deck, apostando no crescimento do fluxo de pessoas. Ao todo, a empresa está investindo cerca de R$ 1 milhão.