Duas operações de órgãos federais, realizadas na última semana, apreenderam mais de meio milhão de reais em vinhos finos em rodovias do Estado e mais bebidas em estabelecimentos de Caxias do Sul e Canoas. Elas chamaram a atenção para um problema antigo enfrentado pelo setor do vinho brasileiro, concentrado na região da Serra: a concorrência desleal com o contrabando. O problema é antigo, mas vem ganhando força, segundo o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta.
— Temos conversado com autoridades porque temos notado esse aumento pelas reclamações que chegam à entidade.
Segundo o representante do setor, não há como mensurar em números o impacto sofrido em função do contrabando de vinhos. Mas, para se ter uma ideia, ele cita dados da Receita Federal de 2021 que apontaram que as apreensões de bebidas no passado somaram R$ 34 milhões, sendo que os vinhos, principalmente vindos da Argentina, lideram esses percentuais.
— Em torno de 25% desse volume é de vinho, sendo que a estimativa é de que as apreensões sejam menos de 10% do total que circula ilegalmente — destaca Argenta.
O presidente da Uvibra diz que a entidade vem buscando fazer um trabalho em conjunto com a fiscalização, com bastante diálogo, com correspondências para órgãos do governo federal e estadual. Mas destaca que o combate ao comércio ilegal passa também por uma questão de conscientização.
— O que realmente entristece é ver que as pessoas que adquirem, até pelos preços dos produtos, têm formação, há quem faça isso consciente e acaba esquecendo toda a cadeia envolvida na produção do vinho, do produtor à vinícola e ao comerciante — aponta o presidente da entidade.
Muitos desses produtos que entram no país sem impostos também são suspeitos de serem adulterados.
— Tem alguns rótulos falsificados bem semelhantes aos originais. Mas quem compra sem procedência não tem segurança de que o vinho que está dentro é o que ele está comprando — comenta.
Sobre o momento atual de apreensões, Argenta diz que a situação não prejudica apenas os vinhos nacionais, mas que até importadores estão preocupados. Na operação mais recente, os vinhos contrabandeados tinham origens portuguesa, espanhola e italiana, mostrando que não são mais apenas os países vizinhos que concentram a maior parte dos produtos que entram ilegalmente no Brasil.