Pouca gente imagina que Rodrigo dos Santos Fantinel, 45 anos, CEO da Intral SA, começou como operador de máquinas da Randon Implementos há mais de 25 anos. Menos gente ainda sabe que nos intervalos do trabalho ele deixava de jogar cartas com os colegas para ficar estudando nos fundos do maquinário. E um grupo familiar ainda mais seleto é testemunha de que o executivo sempre teve como meta de vida ser o mais eficiente possível para galgar posições ainda maiores.
— Na segunda noite de trabalho, minha tia Leda (in memoriam) me perguntou se era isso o que eu queria e eu respondi: “não é, mas eu chego lá”.
Apesar da história profissional construída degrau por degrau, Fantinel fala muito menos de si do que dos planos que têm para a empresa. Assim como as metas de vida, as projeções dos negócios que comanda costumam ser ambiciosas. Fantinel pretende aumentar em 80% o faturamento da Intral, o que significa fechar o ano com receita de R$ 180 milhões. O primeiro bimestre já registrou o melhor faturamento da fabricante de sistemas de iluminação nos últimos oito anos. Hoje, 70% do mercado atendido é corporativo, e a empresa é a única fabricante nacional de lâmpadas de residências. A seguir, confira o que o executivo destaca sobre o potencial de crescimento que enxerga na empresa caxiense com 72 anos de história:
Como se tornou CEO da Intral?
Eu trabalhei 25 anos nas Empresas Randon. Nos últimos três anos, estava como principal executivo da Suspensys. E aí surgiu a oportunidade da Intral. O primeiro contato foi em maio do ano passado. Em julho, foi feita a proposta e, oficialmente, eu comecei a atuar como CEO da empresa em agosto.
São ramos bem diferentes de atuação industrial. Como foi a decisão de mudar de companhia?
A partir do momento que tu és executivo e, principalmente, eu que toco foco nas pessoas, em trabalhar para elas e com elas, o ramo importa pouco. Eu me cerco de pessoas com conhecimento técnico. Eu tenho que ter noção de tudo, mas preciso de uma visão estratégica de futuro e ter as pessoas certas nos lugares certos. Não pesou para mim a mudança de negócio.
Um executivo com 25 anos de atuação já se prepara para desafios maiores, mas já se imaginava sendo CEO de uma empresa? Temos visto um movimento na Serra de várias companhias fazendo a sucessão fora de casa, buscando profissionais do mercado. Era um caminho que tu já traçavas?
Eu vim me preparando para isso ao longo da carreira. Uma frase que eu uso sempre: cada um é CEO da sua função. Eu sempre me imaginei assim e que conseguiria implementar essa filosofia. E juntos vamos ser o CEO do negócio.
Apesar de ramos diferentes, Randon e Intral são empresas parecidas no sentido de serem tradicionais, familiares. Como foi a transição?
Eu trabalhei 25 anos em uma empresa familiar, que eu sou fã. Gosto muito da família, são pessoas espetaculares. E vim para outra empresa assim. Quem estava aqui era o Edson D’Arrigo. E a transição foi muito suave, porque ele estava muito consciente. Então, a partir do momento que foi tomada a decisão, ele foi se preparando. Teve o período de transição e agora ele está no conselho. Tivemos afinidade e confiança desde o primeiro encontro.
Como chegaram no teu nome?
Eu havia sido convidado para participar de um processo para ser CEO de uma outra empresa da região. Aí a mesma agência que me contratou publicou no Linkedin que tinha uma vaga de CEO na Serra. A outra vaga não me interessava, mas essa, sim. E aí começamos o processo. Apresentaram o meu currículo e, segundo o D’ Arrigo, foram analisados 200 currículos. Aí acabamos nos aproximando, os meus interesses e os da empresa, e acabou dando certo. Foi um processo suave, simples, como é o jeito do D’Arrigo, e o meu jeito também, muito objetivo. Nós tivemos três encontros.
Em um processo de seleção, assim como é analisado o currículo do profissional, o candidato também verifica a situação da empresa. Como foi esse teu diagnóstico?
A Intral sempre foi uma empresa saudável, que não toma crédito, que tem caixa. Isso eu já tinha visto. Uma empresa que, apesar de nos últimos cinco anos ter tido uma queda de receita, seguia saudável. Uma empresa que não deu prejuízo mesmo na crise. Eu sempre enxerguei com um potencial muito grande. Qual a casa, empresa que não tem iluminação? Então tem um potencial muito grande de mercado tanto aqui quanto na América do Sul e, agora com essa crise mundial, temos possibilidade de colocar a Intral no mundo. Foi esse desafio que pesou mais, de fazer essa virada, de fazer com que a Intral cresça e esteja preparada para novos voos.
Dentro desse planejamento estratégico de crescimento, quais as principais apostas?
Inovação. Temos um plano até 2026 mapeado. E a segunda principal aposta é reaproximar a Intral do mercado. É um nome muito forte, que estava um pouco distante. Tudo isso suportado pelas pessoas que estão aqui, que hoje são 240 profissionais.
Podes citar quais são as oportunidades que estão surgindo no mercado internacional?
A China deu uma baqueada no mundo. Primeiro, pelo coronavírus que apareceu primeiro por lá; segundo, pelos fretes que estão nas alturas; e, em terceiro, porque está aumentando os preços. É um movimento quase que natural se for estudar a história tanto do Japão quanto da Coreia do Sul. Eles começaram com preço baixo, qualidade baixa e depois aumentaram preços, qualidade e começaram a ganhar mais dinheiro. A China é o que é hoje porque o governo subsidiou muito. Uma peça fabricada na China era mais barata que o quilo do aço aqui no Brasil. Um frete que era 1,3 mil dólares, atualmente está 12 mil dólares. É essa crise mundial que vai dar oportunidade de a Intral entrar em vários mercados e, principalmente, o dólar no patamar que está. Nós temos um capital fabril com potencial gigante. Não tem nada mais moderno em equipamentos no mundo. Tem igual, mas não mais moderno.
Apesar desse grande potencial de fabricar aqui, ainda há necessidade de importação de muitos insumos, e há dificuldades como a crise dos semicondutores que impacta muito o segmento da Intral. Como administram isso?
Nós temos uma área específica que está sendo estruturada a fim de buscar o melhor preço em qualquer lugar do mundo. Estamos buscando fornecedores alternativos. O que podemos verticalizar nós estamos fazendo dentro de casa. O preço do aço vem subindo, mas nós temos formas de fazer diferente, usar um aço diferente, outra liga ou mesmo o plástico. Usar o grafeno. É isso que estamos estudando para poder driblar esta crise e sermos competitivos. Hoje o que nós temos de luminárias na Intral nós não perdemos para ninguém.
O que dá para adiantar de novidades que serão lançadas no mercado neste ano?
A Intral tem um trabalho muito forte de eficiência energética. Trocando uma luminária comum que tem nas empresas hoje por uma da nossa marca é possível ter ganho de quase 80%. E nós conseguimos fazer toda a troca dessas luminárias. O cliente não tira um real do bolso como investimento. Com funciona essa inovação de negócio? Se faz o diagnóstico de quanto a empresa gasta com energia elétrica. Se ele gastar R$ 100, depois de trocar tudo, ela vai começar a gastar R$ 20. Sobram R$ 80. Desse total, R$ 40 ele começa a pagar em 10 a 14 prestações. E os outros R$ 40 já arranca ganhando no primeiro mês. Outra inovação em que estamos trabalhando é em uma luminária para desenvolvimento de plantas para quem quiser ter horta em casa. Está em fase de testes. Estão sendo feitas parcerias com universidades de Santa Maria e Caxias do Sul para verificar a eficácia. Também estamos testando o uso do grafeno em bobinas, caixas dos driver, corpo da luminária. Podemos usar grafeno em quase todos os nossos produtos. Outra luminária que devemos lançar em breve é a que trabalha com o ciclo circadiano, que vai refletir a luz do dia. Essa lâmpada vai ser fundamental para hospitais. Também já tem estudos que comprovam que refletir a luz do dia dentro de escritório e empresas pode resultar em produtividade maior em até 14%.
E vocês estão de olho no mercado da energia solar?
Nós contratamos um especialista nisso, pois queremos vender a solução completa. Antes da energia solar, tem um passo anterior. Se nós diminuímos o consumo, diminui inclusive a usina solar.
Quem está por trás de toda essa inovação? Vocês criaram algum núcleo específico para isso?
Nós temos um centro tecnológico capitaneado pelo gerente de engenharia, Anderson Soares, que está buscando parcerias com universidades. Nós vamos criar o Intral Lab. Ele vai ocupar um andar inteiro da nossa sede administrativa para que todo mundo que complete nosso ecossistema possa trabalhar aqui junto conosco.