Ana Antunes, 42 anos, comanda o Marketing da Arezzo, uma das maiores marcas de moda da América Latina. Ela é uma das convidadas da W/Experience, imersão realizada pela Gramado Summit que ocorre na quarta-feira, 1º de setembro, em Gramado. Discussões sobre comunicação e varejo vão estar em evidência, e Ana vai compartilhar um pouco de seus aprendizados em mais 17 anos atuando no mercado de moda.
Ela comanda o marketing de Brizza Arezzo e Arezzo Bambini, novas frentes da marca para chinelos e público infantil, que complementam o portfólio da Arezzo&co.
A seguir confira um pouco mais da história desta executiva que, antes de atuar na linha de frente de uma grande empresa, aprendeu muito sobre empreendedorismo.
Como a tua trajetória profissional, que está além do currículo de formação, a fez alcançar o cargo executivo na Arezzo?
A minha formação original é estilista. Na época que fiz faculdade, a gente entrava muito movida pelo sonho da moda e do glamour. Assim que você começa a trabalhar, percebe que existe toda uma indústria e profissionais que fazem aquele sonho acontecer. Mas foi quando fiz especializações em negócios de moda que abri minha mente, de fato, para o business que estava por trás da de uma criação. Aí o meu próximo passo foi abrir uma marca de acessórios com minha irmã, que mantivemos por 10 anos. Foi uma escola, porque ali você faz tudo, do financeiro ao comercial, passando pelos estilos, e marketing. Sou carioca, mas moro em São Paulo há 20 anos, e sempre tive muita facilidade para relacionamentos. Fui a pessoa que assumiu essa frente. Era o começo, por exemplo, da era das então blogueiras. Foi depois dessa experiência que fui chamada pela Arezzo.
E como foi teu desenvolvimento no grupo?
Entrei na Arezzo&co na marca Schutz para um cargo de merchandising, com foco em produto. Uma vaga com olhar de moda, mas bem estratégica. Usei toda minha bagagem de empreender em uma empresa grande. Em 2017, de forma muito natural, fui caminhando para área de comunicação e assumi uma oportunidade no marketing da Schutz. No final de 2020, fui convidada pela diretoria, para assumir a gerência de marketing da Arezzo, da Brizza Arezzo, que é a marca de flip flops da Arezzo. Estamos agora também, dando nossos primeiros passos na Arezzo Bambini, linha de produtos infantis. Desde março de 2020, tivemos de mudar radicalmente a direção do navio. O conhecimento do todo de um negócio e da moda foram fundamentais para isso.
Mesmo no meio a um momento tão complicado, a companhia está em expansão, com várias aquisições. Como é fazer parte disso?
Ninguém no universo tinha conhecimento de como tratar e lidar com uma crise desse tamanho. De março, até pelo menos julho de 2020, foi um período de descobertas. Novos caminhos, novas, estratégias. No começo da pandemia, o senhor Anderson Birman, fundador da Arezzo, escreveu uma carta para todos os colaboradores, que nos serviu fortemente como um norte! Dizia: “Adapte-se, adapte-se e adapte-se novamente”. E foi o que fizemos: planejamos, executamos e mudamos a rota. Nosso diferencial foi experimentar, entender o que funcionava e não ficar parado. Foi assim que a gente conseguiu virar o navio. Eu cuido da marca Arezzo, mas as aquisições do grupo respingam na companhia inteira de forma muito positiva. No meio de um momento de vida tão inseguro, trabalhar em uma companhia que consegue estar crescendo mediante tudo que está acontecendo deixa todo mundo muito seguro e orgulhoso. E a Arezzo é a marca do grupo com maior capilaridade. São 430 lojas no Brasil mais o e-commerce. Em 2021 abrimos o e-commerce nos Estados Unidos, com excelentes resultados, de acordo com o planejado.
E como estão as expectativas de vendas um ano e meio após o início da pandemia, principalmente em relação ao de fim de ano?
A gente espera que o cenário econômico se estabilize. Qualquer empresa de varejo passou por momentos muito difíceis. A marca Arezzo chegou a ter 430 lojas fechadas em determinado período. Nem um roteirista de filmes poderia imaginar que isso aconteceria um dia. O que se pode tirar de bom é que as transformações ficam. Colocamos de pé a digitalização da marca Arezzo, que já estava muito à frente em relação ao mercado. O processo estava pronto, mas foi preciso “chutar para o gol”. Hoje o cliente consegue comprar se estiver na casa dele, na loja, por telefone, Whats... Essas facilidades para o cliente, essa quebra da barreira digital com o físico, foi uma das experiências mais importantes que a pandemia trouxe.
Acredito que o Natal esse ano vai ser um pouco diferente do ano passado, no sentido das pessoas poderem estar mais próximas, presentear, porque a pandemia trouxe esse sentimento de família, de pertencimento. Muitas pessoas passaram o Natal passado sozinhas. Eu sou exemplo disso, fui uma delas. Estava com covid-19 no dia 24 de dezembro de 2020 e fiquei isolada.
O que esperar da tua participação na W/Experience da Gramado Summit?
O dia a dia é tão corrido que eu só “realizei” a importância da participação quando um outro compromisso importante começou a ameaçar esta agenda na Serra. Mas eu sei o quanto a Arezzo&co é forte na região, com uma das maiores fábricas de calçados da região. São mais de 1,5 mil funcionários na sede do Sul. A minha fala vai ser muito em cima dessa adaptação. Vou destacar o marketing, a comunicação, mas vou falar muito de varejo. Vou mostrar de que maneira a comunicação foi fundamental para essa virada de chave de 2020 junto com as demais áreas. O foco é o cliente. É todo mundo, de forma coesa, trabalhando para atender e colocar o cliente no centro.
No meio da moda, a participação de mulheres é bem maior na comparação com outros setores econômicos. Como uma das líderes da empresa, como enxerga esse papel feminino nos tempos atuais?
Realmente, eu trabalho em um setor que, talvez, seja um dos poucos que tem a maioria de mulheres. Na Arezzo, 64% do quadro profissional é composto por mulheres. Eu vejo que a pandemia fez as mulheres se mostrarem mais capazes ainda. Muitas ficaram em home office, com filhos, sem profissionais para ajudar. Acho que há, cada vez mais, espaço para quem tem essas capacidades de se adaptar. Acho que as mulheres lideram bem porque têm o racional e o emocional desenvolvidos. Não somos robôs, trabalhamos com pessoas, esse viés emocional é muito positivo, ainda mais neste momento em que as pessoas estão passando por muitas dificuldades. Não tem como deslocar a pessoa física da jurídica.