Uma velha máxima do futebol diz que tão importante quanto ganhar (ou perder) é entender por que isso aconteceu. Ou seja, para extrair os melhores ensinamentos de uma circunstância, é preciso focar nas causas, e não ficar apenas na superfície, no resultado ou produto final.
Isso também vale muito para a política e, tenho certeza, aplica-se à reeleição de Adiló Didomenico em Caxias do Sul. Por isso é interessante analisar o que aconteceu. A consagradora vitória significa uma aprovação majoritária ao projeto e à gestão do prefeito ou se deve a uma circunstância específica de um quadro político, especialmente no segundo turno? Não tenho dúvida de que a segunda hipótese tem mais peso.
Isso não quer dizer que a primeira gestão de Adiló não tenha pontos positivos. Foi citado na campanha, e é verdade, que o governo enfrentou situações que atrapalharam bastante. Além de assumir em meio a uma pandemia e posteriormente enfrentar seguidas tragédias climáticas, o atual prefeito (e o governo tampão, de Flavio Cassina) tiveram que reestruturar toda a gestão pública, entregue totalmente desajustada pelo desastroso governo Guerra.
Manter a cidade funcionando enquanto enfrentava esses problemas foi, sem dúvida, um feito. Além disso, foram encaminhadas questões importantes para o futuro, como a reforma da previdência municipal, implantação de parcerias público-privadas e a virada na situação do Caso Magnabosco, que de uma derrota inevitável está prestes a se tornar um acordo suportável pelos cofres municipais.
Esses méritos são inegáveis, mas a votação de Adiló no primeiro turno mostra que não foram suficientes para convencer a população. Para um prefeito em busca da reeleição, com toda a exposição de mídia em quatro anos e a possibilidade de apresentar entregas palpáveis, algo que não é possível aos concorrentes, fazer 27,5% dos votos no primeiro turno é muito pouco. Beira à reprovação, tanto que por um triz ele não foi eliminado ali.
Veio o segundo turno, e como seguidamente acontece nessa etapa, o eleitorado muda o estilo de voto, migrando daquilo que acha o ideal para uma escolha quase plebiscitária, a favor ou contra um projeto. E aí o voto contrário ao adversário Maurício Scalco foi decisivo.
Adiló não ganhou só por causa disso, mas essa circunstância política, e do tipo de adversário que enfrentou, foi fundamental. Se o atual prefeito tivesse que enfrentar um oponente mais experiente, com mais habilidade para conduzir o barco no segundo turno sem sobressaltos, especialmente na contenção de declarações e posicionamentos desastrados de aliados, a coisa seria muito mais difícil.
Apesar disso, é preciso reconhecer que Adiló foi competente neste momento. Não falou bobagens, afastou radicalismos e se portou como o candidato que tinha mais condições de unir a cidade. Além disso, reconheceu que um segundo governo precisaria melhorar muitas coisas pendentes de sua primeira gestão. Com méritos, foi reeleito.
Uma segunda chance, coisa rara na política, foi dada, e com isso Adiló tem a obrigação de fazer um governo melhor. Erros como falta de agilidade e planejamento para tocar projetos, secretariado pouco “inspirado”, dificuldades de comunicação na maior parte do tempo e falta de atenção com coisas básicas (e que não são tão custosas) como a conservação da cidade não podem se repetir.
Voltando ao início deste texto, entender por que se vence é tão importante quanto o resultado do jogo em si. Uma autocrítica sobre o primeiro governo é extremamente necessária, e tenho certeza de que o prefeito, experiente e calejado “treinador”, tem plenas condições fazer essa leitura, e aproveitar ao máximo a nova chance que recebeu.