A antiga ideia de dotar Caxias do Sul de um local coberto para realização de eventos de rua ganhou uma perspectiva de concretização. A partir de uma iniciativa da União das Associações de Bairros (UAB), começou ganhar corpo um projeto para cobertura de parte da Rua Plácido de Castro, que passa ao lado da Maesa. A intenção é que a estrutura seja viabilizada com recursos conseguidos via Lei de Incentivo à Cultura (LIC) e se consolide como um espaço multiuso à disposição da comunidade.
De acordo com o tesoureiro da UAB e presidente da Associação dos Amigos da Maesa (AMaesa), Paulo Sausen, a ideia de cobrir a via surgiu já durante o debate sobre a criação da Feira Maesa Cultural, em 2022. Na ocasião se relembrou a experiência do Brique dos Macaquinhos, realizado na década de 1990 no Parque Getúlio Vargas e que, apesar do sucesso inicial, não conseguiu se consolidar devido à instabilidade do clima de Caxias do Sul, que prejudicava a frequência do evento e a presença do público.
Mais tarde, com a Maesa Cultural atingindo sucesso e entrando para o calendário de eventos de Caxias do Sul, a ideia de uma melhor infraestrutura começou a ganhar forma. O primeiro passo foi buscar o apoio do município, proprietário da área, pois precisam ser levadas em conta questões de preservação da fachada da antiga fábrica. Segundo Sausen, o acolhimento da ideia aconteceu naturalmente.
– Nós fomos conversar com eles antecipadamente, pois já vínhamos construindo essa ideia, e eles concordaram. O projeto terá que passar por todos os órgãos técnicos para ver se há algum empecilho, e estamos elaborando um projeto que viabilize superar as dificuldades técnicas e culturais que possam vir. O processo até foi rápido, pois nós pedimos em março e agora já veio a autorização do município – ressalta Sausen.
O documento citado pelo presidente da AMaesa é uma Carta de Anuência assinada pela secretária municipal da Cultura, Magali Quadros, em 11 de abril. O documento informa que o município manifesta seu apoio e interesse na aprovação do projeto Rua Coberta da Maesa, o que autoriza que a proposta faça os trâmites em busca de verbas. No entanto, Magali ressalta que este documento cumpre uma formalidade burocrática, e que é apenas o passo inicial para que outras questões sejam superadas.
— As cartas de anuência são uma praxe, e todo projeto que tem interesse coletivo recebe esse documento para seguir os trâmites das leis de incentivo. Nesta carta fica claro que este projeto deve passar por todas as instâncias necessárias para que ele seja aprovado no final. Ou seja, precisa do aval das secretarias envolvidas e de órgãos como DIPPAHC (Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural), COMPAHC (Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural) e Grupo de Trabalho da Maesa, porque existe um plano de ocupação da área e precisam ser feitos todos os estudos de viabilidade. Temos o desejo de uma rua coberta, mas se necessita de um estudo para o entendimento de qual é o lugar mais apropriado para atender esta demanda de muito tempo da comunidade – alerta Magali.
Após a elaboração da proposta prévia e da anuência dada pela prefeitura, o próximo passo é preparar a busca de recursos. A entidade responsável pela apresentação deve ser mesmo a UAB, e a condução desta etapa é feita pela produtora cultural Rubia Frizzo, ex-secretária da Cultura, membro da AMaesa e uma das pessoas mais inteiradas do processo de conservação da área da antiga metalúrgica.
Ela informa que esse processo será feito em duas etapas. A primeira envolve uma inscrição a fim de captar recursos para a execução do projeto final, e que vai determinar os valores necessários. A segunda parte vai ser a busca de verba para a construção propriamente dita, e que envolverá o protocolo de um novo projeto de LIC. Rubia não fala em custos, pois diz que fica difícil estimar valores sem os projetos finais. O presidente da AMaesa, Paulo Sausen, citou uma estimativa básica de R$ 5 milhões.
Outro debate ainda em curso é a extensão da cobertura. Segundo Rubia, em reuniões prévias se fortaleceu o entendimento de que a estrutura deve estar em apenas um dos lados da Rua Plácido de Castro, na posição oposta ao ponto onde está a fachada da Maesa. Isto abrangeria o objetivo de proteger os eventos, e diminuiria a possibilidade de prejudicar a visualização da fachada. Esta questão, porém, ainda está em aberto, e as soluções técnicas ou tipo de material que venham a ser utilizados podem influenciar na extensão da cobertura.
Rubia trabalha agora na obtenção de todos os documentos necessários, para que a primeira parte da proposta possa ser protocolada em algum processo de LIC em cerca de um mês. Ela entende que a cobertura seria mais um passo importante no processo de ocupação da área da Maesa, e traria ganhos importantes à comunidade, indo muito além da feira que já ocorre no local:
— Além da feira existente, obviamente ela seria usada para muitas outras atividades, evitando aqueles gastos repetidos de aluguel de estruturas, e se equiparando com muitas outras cidades, como Gramado, Nova Petrópolis e Bento Gonçalves, que a partir do uso de ruas cobertas incrementaram muito seus eventos culturas e turísticos. Vai ser um local de convivência, lazer, cultura e turismo, mas com uma segurança climática.