Um debate interessante se estabeleceu em Caxias do Sul a partir da notícia trazida aqui pela coluna, sobre a iniciativa da Associação dos Amigos do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea - Grupo Conde de Caxias (Soaconca) para preservar o Monumento ao Duque de Caxias. A entidade quer recuperar totalmente o espaço, inclusive com a recolocação do busto de bronze, furtado em 2021, mas vai usar uma cápsula de vidro no entorno, para garantir a segurança do material exposto e evitar novas depredações.
A mais frequente questão que passou a se levantar é que a medida seria uma espécie de rendição, ou seja, uma admissão do poder público e da sociedade civil de que, pelos métodos convencionais (educação, conscientização, vigilância e policiamento), não é possível enfrentar o vandalismo. Também criaria uma disparidade entre um monumento moderno e bem cuidado e os demais, na própria Praça Dante Alighieri, abandonados e degradados, e não incentivaria um reforço na segurança do local.
Não há dúvida de que esses argumentos, em alguma medida, fazem sentido, mas creio que são incompletos, pois não respondem a uma questão básica: qual a alternativa, então?
No curto prazo não é plausível que os órgãos de segurança consigam aumentar radicalmente a fiscalização. Além disso, o furto de metais há anos é uma questão nacional, presente em todas as cidades de porte médio e grande, e a maior parte das respostas não tem funcionado. Assim, sem perspectivas de grandes mudanças, acho que a iniciativa da Soaconca é, sim, uma solução, e precisa ser saudada e apoiada.
Isso não quer dizer, no entanto, que a comunidade não deva continuar cobrando das autoridades. O vidro vai resolver um ponto específico, mas não mexerá na ampla questão da insegurança no Centro. O próprio presidente da Soaconca, Luis Felipe Novello, deixa claro que por mais que a reforma vá dar um novo patamar de segurança ao monumento, isso não mudará a necessidade de que o entorno seja melhor cuidado.
— Nossa única exigência, quando assumimos o restauro, foi de que a responsabilidade por cuidar do monumento não é nossa, e nem do Exército. Essa função é da prefeitura e dos agentes de segurança aqui sediados. Se a gente não conseguir cuidar de algo que está na praça central, não vamos conseguir cuidar de mais nada — reforça Novello.
O secretário Municipal da Segurança, Paulo Rosa, considerou positivo o projeto de recuperação do monumento ao Duque de Caxias. Para ele, tudo que colabore com a segurança da cidade é bem-vindo, e este é o caso da reforma do monumento. Ele também discorda da visão de que o caso passa uma mensagem de que o problema dos furtos não terá solução:
— Dificulta o crime e isto é importante. Vamos usar o exemplo de um carro: se o dono deixar os vidros abertos, isto acaba sendo um facilitador para os ladrões. Eu vejo este projeto como uma precaução baseada na realidade, já que existe o ideal e o real. Infelizmente, hoje, o cobre é um item muito valorizado no mercado ilegal, e tudo que puder combater essa realidade ajuda.
Uma ação mais efetiva na Praça, porém, ainda está distante. Paulo Rosa revela que atualmente a Praça Dante Alighieri é fiscalizada por equipes volantes da Guarda Municipal e uma presença fixa está descartada por questões de efetivo. Segundo Paulo, para isto ser implementado, seriam necessários no mínimo oito servidores para cumprir todos os turnos, o que não está disponível, além da construção de uma estrutura física que permitisse visualizar todo o perímetro da quadra.
O secretário, no entanto, tem muita confiança de que o novo cercamento eletrônico vai ajudar a prevenir e solucionar crimes na área central. Tanto que, segundo ele, mesmo sem ainda estar operando plenamente, o sistema já ajudou a prender um responsável por atos de vandalismo.
Uma informação confirmada pela secretária da Cultura, Cristina Nora Calcagnotto, de que seguem os estudos para que os outros monumentos sejam também recuperados, mesmo que com materiais com menor valor que o cobre, para não atrair ladrões, é mais uma notícia interessante para a Praça Dante Alighieri.
Apesar de também abrir espaço para críticas, essa ideia ao menos propõe alguma alternativa para combater a degradação do local. A construção de um ambiente melhor no Centro é um ponto importante para a cidade, e torço para que a reforma do Monumento ao Duque de Caxias sirva como exemplo e motivação para este processo.