Todo mundo tem um jeito de falar de saudade, mas o que é mesmo, ninguém sabe. Nem eu, nem tu. Mas talvez seja uma espécie de dor que brota bem dentro da gente. Uma dor sem despedida. Sem medida. Sem tamanho. Que aparece quando menos se espera. Uma dor misturada com lembrança. Porque saudade a gente só tem de algo que viveu. Viveu e terminou. Mas não é qualquer lembrança. É aquela que a gente sabe que faz falta. E como faz. Faz falta o cheiro, o sorriso, a conversa, o abraço, a risada alta, o modo com que falava. Faz falta a emoção, o cigarro aceso sobre o balcão, as conversas.
A saudade nasce logo depois de um tempo. Nasce quando menos se espera. Um dia chega e desabrocha. Perfuma o ar e faz a gente chorar. A saudade é sempre úmida. É uma brisa suave que se espalha pela casa, invade o coração, a cabeça e a alma. A saudade invade o tempo sem pedir licença e se senta junto. Não dá para fugir. Quem viveu um amor, quem viveu uma alegria, quem viveu um sonho, sente saudades. Parece um sentimento ruim porque só aparece depois que tudo acaba, mas na verdade, é a certeza de que algo bom, de fato, nos aconteceu.
Às vezes a saudade se esconde dentro de um livro lido pela metade e nunca mais tocado. Ou no chapéu pendurado no cabide e nunca mais usado. Às vezes, nas fotografias esquecidas dentro da gaveta. E daí dá uma dor no peito. Negar não faz bem. O melhor é aceitar, abrir o coração, revirar pelo avesso a lembrança e saber que a saudade é perfume de flor, chega, nos toca, preenche e vai embora. Ninguém tem o mapa de como lidar com ela. Uns acham estranho. Outros choram muito. Outros ainda tentam não sentir. Mas não tem jeito, porque saudade é passado, mas é também futuro. É sentimento partido para frente e para trás. Fala de ontem, mas carrega o desejo do amanhã. Porque saudade é também esperança.
As Olimpíadas de Paris 2024 terminaram no domingo e atravessei todos estes dias lembrando de meu pai. Apesar de ele não estar mais aqui, de certo modo, compartilhei com ele sobre os jogos que assisti, discuti os resultados, lamentei sua ausência e pensei com muita dor no coração, que ele teria adorado ver os jogos. Meu pai gostava demais de esportes. Tenho certeza que a cada medalha do Brasil ele teria vibrado muito. De vez em quando até imitava o grito dele, só para senti-lo por perto. Um jeito de manter viva sua alegria, agora dentro de mim. É muito estranho viver coisas sabendo que pessoas que amamos não estão mais aqui. É como se tudo ficasse pela metade.
Os jogos acabaram e já sinto uma saudade. Sei que com você também é assim. No meu caso, pela emoção e sentimento de superação que os esportes nos causam, mas também porque é como se meu pai se despedisse outra vez. Cresci assistindo aos jogos ao lado dele. É a primeira Olimpíada sem ele por aqui. Sem o cheiro da pipoca sendo feita, sem ele chamando e apressando porque estava na hora de começar mais uma partida, sem os gritos de gol e a torcida alegre.
É a vida. E a saudade é um amor estocado no peito.