Preciso confessar que tenho uma mania devastadora do equilíbrio emocional, ler comentários na internet. Já me comprometi a não fazer mais isso, mas basta ter uma polêmica e lá vou eu ler e me apavorar com o que as pessoas escrevem. Dias atrás conversava com um amigo que me contava a mesma coisa. Dizia ele que relutava, relutava e quando menos esperava, pá, estava lá lendo. Deve acontecer com você também que me lê, afinal, dependendo de como este texto será entendido, vai gerar debate. Comecemos pelo começo, assim, de modo didático, o que sempre me parece mais correto em se tratando de tentar explicar algo outra vez. Digo outra vez porque volta e meia aparece alguém de alma boa querendo ajudar na compreensão da simbologia da coisa em voga. E isso não é falsa modéstia e nem apenas uma simples retórica. Lembrando que retórica é um termo que compartilho da filosofia e que tem a ver com a eloquência das palavras. Enfim.
Sexta-feira teve a abertura das Olimpíadas 2024 em Paris. Eis a cidade da luz, do amor e agora do esporte. Uma frase bem clichê esta, mas que sempre funciona. Tenho percebido que há uma parte do humano que espera por frases prontas, como se elas em sua beleza rasa já dessem conta do entendimento intelectual. É claro que não funciona assim, mas é gostoso acreditar no que não causa esforço. Voltemos ao assunto desta breve crônica. Ao final da abertura as redes sociais já estavam inundadas por comentários de todos os tipos. E a celeuma se proliferou pelo fim de semana. Mal abriram as olimpíadas e já dava para fazer listas de opiniões de gente que nem sequer lê bula de remédio que dirá um livro. Nestas horas sempre lembro de Nelson Rodrigues, o brasileiro tem uma autoestima fantástica, basta acontecer algo que mexa com suas posturas, ainda mais se forem conservadoras e sem muito conhecimento, e já há a criação de um repertório de argumentos, geralmente fajutos e sem sentido, sendo vociferados aos quatro ventos. Gosto muito desta expressão “aos quatro ventos”. Há uma certa ingenuidade, prefiro pensar assim, quando alguém acredita que precisa espalhar suas ideias ao léu e para todos.
Peço desculpas ao meu leitor, leitora, pois há um lado meu muito prolixo. Mania de quem vive às voltas com livros. Isso deve acontecer com todo mundo que se propõe a estudar e a ler, afinal, depois de um tempo nesta lida se descobre que é impossível dar opinião sem que se deva antes contextualizar o que será dito. Isso significa dizer que se você não entende do assunto, precisa primeiro entender, senão sua fala não terá validade alguma, a não ser causar irritação. E desejar apenas causar raiva no outro não é algo que uma boa pessoa deva fazer, não é? Penso que dizendo assim fica bastante clara e pedagógica a instrução. Nestas horas sempre me lembro dos antigos com seus ditados populares. Diziam, nascemos com dois ouvidos e apenas uma boca, lembram? Resta saber se a cabeça é oca.