Você já parou para pensar que talvez a erva daninha seja você? Que talvez o chato da relação não seja bem o outro? Que talvez seja você a pessoa com a qual se tenha de estar pisando em ovos o tempo todo? Que é você a pessoa que sempre entende tudo errado e está pronto para iniciar uma discussão? Que talvez seja você a pessoa difícil de se conviver?
Tem uma frase de Freud que caiu no gosto popular, passou por algumas licenças poéticas, e embora seja dita por aí em redes sociais ao léu, é extremamente profunda e necessária: qual a sua responsabilidade no caos em que você vive?
Gosto de pensar que o óbvio precisa ser dito, assim, se você semeia pólvora vai colher tiroteio. Nem precisa ser muito esperto para compreender isso. Difícil mesmo é admitir que talvez você não seja o alecrim dourado que pensa que é. Ou seja, não é tão sábio, amoroso, espiritualizado, bem resolvido quanto acha. O mundo é muito maior do que nosso umbigo ou do que pensamos sobre ele.
Tem uma parte nossa que acha que porque tem mais dinheiro pode mais, que porque tem mais idade pode dizer o que quiser, que por ser mãe, pai, tio, avô pode ficar dizendo o tempo todo por qual caminho o outro tem de seguir. O que não nos damos conta quando temos este tipo de atitude é que esta parte nossa é extremamente controladora. E controle disfarçado de amor é veneno. Intoxica. Dói o estômago, dá enjoo. Nosso corpo é nossa bússola. Ele fala sem dizer uma única palavra. Este tipo de violência é tão nociva quanto qualquer outra, porque causa culpa, insegurança, fragiliza, desestabiliza, machuca.
De todos os relacionamentos tóxicos que se enfrenta o mais difícil e complexo é o em família. De amigos, amores e chefias é possível, depois de muito entendimento, sair, mas como lidar com alguém muito próximo, teoricamente amado, que avança há anos, os limites em nome do amor. Amor este que vive sob vigilância constante e que muitas vezes impede o sujeito de crescer de fato. Sim, o quanto de nós, pais e mães infantilizamos os filhos, mesmo que eles tenham 40 anos? O quanto, inconscientemente, mantemos as rédeas da autonomia curtas com ataques à subjetividade do filho, o impedindo de bater as asas e construir seu próprio ninho? Não aceitamos as ideias, posicionamentos, vida amorosa, escolha profissional, forma do corpo, o modo como se veste. A lista de expectativas maternas e paternas é imensa. E como lidar quando o filho decide dizer não para tudo que fora sonhado para ele sem que ele tivesse participado do desejo inicial?
Julho está iniciando uma vez mais. Lá fora faz um frio danado, bom para se recolher, fazer um chá e refletir sobre as próprias atitudes. É preciso admitir que o outro pode sonhar e viver sem que estejamos presentes. Não somos tão importantes assim para absolutamente ninguém. E se nos sentimos desconfortáveis com estes entendimentos o melhor é procurar ajuda, pois espalhar farpas, assim como pólvora, mais do que machucar o outro, o efeito rebote pode ser pior.