Adriana Antunes
As beiras da estrada. As beiras de rios. As beiras de sonhos. As beiras do medo. As beiras da vida e da morte. As beiras dos fatos. A beira da sociedade. As beiras da espera. De certo modo vivemos pelas beiradas a vida toda. Beiradas metafóricas e reais. No concreto do dia alguns perdem tudo quando as cheias acontecem e as beiras são engolidas. Gente que não se sabe o nome, mas se reconhece o grito. Gente que não se sabe quem é, mas sabemos da dor porque somos feitos da mesma matéria. Pelo rio se vão o dia, a noite, a memória. Cidades cobertas de água até os telhados. Lama, sujeira, restos. Há dias andamos pelas beiradas acompanhando as notícias sobre a enchente do Vale do Taquari. Percorremos juntos as beiradas desaparecidas pela enchente que tudo levou. Levou corpos, animais, vidas, casas, amores, histórias, sonhos. Beiradas que perderam o contorno. Espaços inundados pelo desespero, tristeza, falta de socorro. Enchente que levou o sorriso e deixou o choro, que levou os desejos mas deixou a coragem de recomeçar, que levou as beiradas mas trouxe a solidariedade.
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