É preciso parar um pouco. A vida nos engole feito onda. As pessoas se atravessam em nossas vidas com suas demandas, deixando as nossas para depois. Nos dilaceramos. Somos uma espécie de elástico e nos esgarçamos até quando podemos (ou até quando o outro acha que deveríamos). O perigo é perdermos a capacidade de voltarmos a nós mesmos. Daí surge o adoecimento. E pensar que às vezes aquela dor de cabeça, ou na coluna, ou no estômago está nos dizendo chega! Sim, porque se deixar por nós, estaremos sempre nos atarefando de mais alguma coisa. Talvez isso tudo seja resquício da cultura que prioriza o trabalho acima de tudo. No entanto, além de um tempo dedicado ao labor, que é extremamente organizador de nossas rotinas, ele também nos rouba tempo de outras possíveis facetas da vida. Além de se tornar um tipo de válvula de escape, para alguns. Afinal, enquanto se trabalha, não se precisa ser ninguém, além desse corpo-vazio, como diria Delleuze e Guatarri, que apenas produz. Um corpo sem órgãos, totalmente disponível para o capitalismo. Então um dia ele dói, aleluia. Uma dor para nos lembrar que somos humanos e que sim, nossa vidinha é miúda e insignificante diante da eternidade das pedras. Até porque a natureza toda, de certo modo, estará sempre aqui, enquanto nós estaremos apenas por alguns míseros anos. Isso deveria servir para nos assustar e nos fazer perceber o quanto somos pequenos diante da vida. Mais, deveria nos aproximar das coisas que nos fazem feliz. Todo mundo busca a felicidade, que longe de ser um exagero é ainda algo tão estereotipado.
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É quase fim de ano e parecemos estar numa ressaca que não passa nunca
Adriana Antunes
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