O movimento de passageiros diminuiu em 60% na Estação Rodoviária de Passo Fundo desde o período anterior à pandemia do coronavírus, no início de 2020, segundo a empresa Paim Bordignon e Cia Ltda, que possui a concessão do espaço. Os apontamentos para a redução de movimento são os valores das passagens de ônibus atrelado com a concorrência das caronas compartilhadas via aplicativo.
De acordo com a BlaBlaCar, uma das plataformas mais populares do Brasil que disponibiliza caronas compartilhadas e venda de passagens de ônibus, o Rio Grande do Sul possui 94% de cobertura com caronas oferecidas. Segundo o aplicativo, foram nove milhões de viagens realizadas em 2022, com um crescimento de 50% em relação a 2021. A BlaBlaCar está no Brasil desde novembro de 2015 e possui uma base de usuários de quase 15 milhões de pessoas.
De acordo com o sócio-gerente da Paim Bordignon e Cia Ltda, Jabs Paim Bandeira, a redução de movimento se tornou gradativa desde a pandemia, período em que, paralelamente, os concorrentes cresceram.
— Tivemos uma queda de 60% no movimento da rodoviária. Uma das situações é o aumento dos custos da passagem de ônibus neste período, outra questão é o uso de aplicativos, em que as pessoas se reúnem em quatro ou cinco e dividem uma carona. Isso diminui bastante — pontua.
Segundo números da concessionária, o movimento diário de passageiros, antes da pandemia, era de 3,2 mil pessoas. Com o início do surto, ele caiu para 2,5 mil e, posteriormente, 1,8 mil passageiros por dia. Atualmente, são cerca de 700 passageiros que passam diariamente pela rodoviária.
O que também apresentou registro de queda é no número de horários disponíveis das linhas de ônibus intermunicipais. Segundo a empresa, a rodoviária possuía uma média de 120 horários diários de linhas interurbanas. Atualmente, são 60 horários por dia, uma diminuição de 50% na rotina da rodoviária.
A situação preocupa Bandeira para o futuro, visto que a rodoviária precisa manter as contas e pagar os funcionários. Com 27 profissionais, num serviço que atende 24h, a empresa pleiteia recurso com o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer).
— O cenário é de rodoviárias fechando, e nós estamos esperando melhorar a situação. Conversamos com outros administradores de rodoviária, estamos pleiteando algum recurso com o Daer, para ver se conseguimos nos manter. Tínhamos uma "gordurinha" antes da pandemia e conseguimos manter tudo em dia, para não precisar demitir ninguém. Mas essa gordurinha se foi — argumenta.
De acordo com o Daer, o número de rodoviárias ativas no Rio Grande do Sul reduziu em 22% nos últimos cinco anos. Enquanto existiam 217 rodoviárias no Estado em 2018, atualmente são 169 terminais rodoviários e 16 novas agências rodoviárias — pontos de comercialização localizados em farmácias, padarias etc.
Nos últimos anos, na região, as rodoviárias de Lagoa Vermelha e Sananduva encerraram as atividades. Segundo o Daer, o departamento está em tratativas com uma empresa que busca retomar as atividades em Sananduva.
Custo em conta x demanda de corridas
A queda de movimento na rodoviária reforça que os passageiros buscam novas alternativas de deslocamento intermunicipal. Motorista de aplicativo, Lauriane Crivello não utiliza transporte de ônibus há 12 anos. De acordo com ela, desde que passou a utilizar aplicativo de carona compartilhada, em 2017, a economia chamou sua atenção.
— Utilizo muito como motorista, mas já usei como passageira também. Gosto de usar pelo valor ser mais em conta, pelo conforto e também pela questão de ajudar e ser ajudada. O aplicativo veio para nos auxiliar, em não estarmos sozinhos como motorista, e também por dividir os gastos — afirma.
Lauriane geralmente compartilha carona em viagens de Passo Fundo a Porto Alegre, em um trajeto de quase 300 quilômetros. Segundo ela, entre ida e volta, se economiza o equivalente a uma passagem inteira de ônibus.
— Se calcularmos os deslocamentos até ambas rodoviárias, além do trajeto mesmo, chega a dar o valor integral da passagem de ônibus. Então, vale muito a pena compartilhar — argumenta.
Por outro lado, encontrar uma carona compartilhada por aplicativo também pode ser desafiador, dependendo o destino que se busca ir. É o caso do analista de marketing José Saurin, que procura caronas desde a metade de 2022, no trajeto entre Passo Fundo e Palmeira das Missões, em todos os fins de semana e feriado. De lá para cá, José só conseguiu carona em uma oportunidade.
— É raro encontrar viagens em horários funcionais ou ser aprovado pelo motorista com uma conta nova na plataforma. Se não possui histórico, a conta não é considerada "confiável". Para conseguir ser aprovado e acumular viagens, a conta precisa ser confiável. Então, vira um círculo vicioso — declara.
Por isso, José ainda tenta usar aplicativo, mas não deixou de viajar de ônibus, em razão de contar com o "risco" de não ter transporte.
— São poucas linhas para a região. Os horários acabam sendo pouco práticos. No aplicativo, encontro pessoas indo e voltando durante vários momentos — completa.
José também diz que a diferença entre a passagem de ônibus e a carona compartilhada é entre R$ 10 e R$ 20 a menos no aplicativo. No entanto, em alguns horários, o valor da carona é mais cara pelo aplicativo.
Comparativo
GZH Passo Fundo fez um comparativo de gastos com o valor das passagens de ônibus e das corridas compartilhadas por aplicativo.
No caso do valor da passagem de ônibus de Passo Fundo a Porto Alegre, para esta semana, no site de uma empresa de ônibus disponível na Rodoviária de Passo Fundo, os valores variam entre R$ 127 a R$ 215, dependendo a categoria do ônibus e o horário de saída.
GZH Passo Fundo também consultou o valor da carona compartilhada nesta semana, entre Passo Fundo e Porto Alegre, em um aplicativo. Os valores das corridas variavam, em média, de R$ 70 a R$ 85.
Também foi consultado o valor da passagem de ônibus de Passo Fundo a Palmeira das Missões, para esta semana, no site da Rodoviária de Passo Fundo. O valor da passagem está em R$ 55. Já no caso da carona compartilhada por aplicativo, só haviam caronas disponíveis na sexta-feira e no sábado, com valores entre R$ 27 e R$ 38.
Segurança e atendimento
Para tentar driblar a diferença de valores e a concorrência, Bandeira aponta que a Estação Rodoviária de Passo Fundo aposta na estrutura da rodoviária, que possui área de espera, segurança com portões que abrem e fecham, além do apoio da Brigada Militar no monitoramento da região. Além disso, a rodoviária passou a disponibilizar pagamento da passagem de ônibus em até 6x no cartão de crédito
— A nossa empresa presta serviço de assistência e conta com funcionários 24h por dia. Temos a Brigada Militar seguidamente nos dando segurança. Contamos com pagamento parcelado, além da nossa área de espera e dos estabelecimentos que movimentam a rodoviária — finaliza.
GZH Passo Fundo
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